
Mauro Bezerra Montello1
1Bacharel em Fisioterapia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ex-monitor do Programa de Monitoria da área V,
As glândulas endócrinas, também chamadas de glândulas sem ducto ou de secreção interna, estão representados por órgãos relativamente pouco volumosos e localizados ao longo do corpo. Por não possuírem ductos excretores, essas glândulas lançam seus respectivos produtos de secreção – os hormônios, substâncias químicas sintetizadas parcialmente ou totalmente por elas – diretamente na corrente sanguínea.
Os hormônios são os mensageiros químicos produzidos nas glândulas endócrinas cuja função é a manutenção da homeostase, mantendo o equilíbrio interno sadio para fazer frente a um ambiente externo mutável.
Glândulas Endócrinas
Além de diversas glândulas principais, células endócrinas isoladas também encontram-se dispersas entre outros tecidos e fazem parte do sistema neuroendócrino disperso (difuso). Estão, por exemplo, dispostas nos tratos alimentar e respiratório. As células neuroendócrinas estão geralmente situadas dentro de um epitélio mucoso, e suas bases muitas vezes repousam sobre a lâmina basal. Em resposta a um estímulo externo, secretam o seu produto basalmente dentro do líquido intersticial.
Aqui foram apenas relacionadas as principais estruturas classificadas como glândulas endócrinas:
- Glândula hipófise;
- Glândula pineal;
- Órgão subcomissural;
- Glândula tireoide ;
- Glândula paratireoides ;
- Timo ;
- Glândula suprarrenal ;
- Pâncreas;
- Ovários;
- Testículos.
Glândula hipófise
Também reconhecida como glândula pituitária, trata-se de uma estrutura ovoide contínua com o infundíbulo, um prolongamento inferior oco, de formato cônico, derivado do túber cinéreo do hipotálamo. Encontra-se dentro da fossa hipofisial do osso esfenoide, onde é coberta superiormente por um diafragma da sela, de formato circular, derivado da meninge dura-máter. Esta última é perfurada centralmente por uma abertura para o infundíbulo e separa a face anterossuperior da glândula hipófise do quiasma óptico.
A glândula hipófise tem duas partes principais, a neuro-hipófise (posterior) e a adeno-hipófise (anterior), as quais diferem em sua origem, estrutura e função. A neuro-hipófise é uma evaginação do assoalho do diencéfalo, conectada ao hipotálamo. Já a adeno-hipófise é um derivado da membrana bucofaríngea.

Neuro-hipófise
Os neuro-hormônios armazenados na principal parte da neuro-hipófise são a vasopressina (ou hormônio antidiurético, ADH) – que controla a reabsorção de água pelos túbulos renais, e a oxitocina – que promove a contração da musculatura lisa uterina durante o parto e a ejeção do leite pela mama durante a lactação.
Os grânulos de armazenamento que contêm os polipeptídeos hormonais ativos ligados a uma glicoproteína transportadora, a neurofisina, seguem ao longo dos axônios a partir do seu local de síntese nos corpos celulares dos neurônios.
Adeno-hipófise
A maioria dos hormônios sintetizados pela adeno-hipófise é trófica. Incluem o hormônio do crescimento (GH, um peptídeo), envolvido no controle do crescimento do corpo, e a prolactina (também um peptídeo), que estimula o crescimento do tecido da mama e a secreção do leite. Os hormônios tróficos glicoproteicos incluem a pró-opimelanocortina, o grande precursor da adrenocorticotrofina (ACTH), a qual controla a secreção de certos hormônios do córtex da suprarrenal; o hormônio estimulador da tireoide (TSH); o hormônio folículo-estimulante (FSH), que estimula o crescimento de folículos ovarianos e a secreção de estrógenos pelo ovário, e a espermatogênese (atuando sobre as células testiculares de Sertoli); e o hormônio luteinizante (LH), que induz a secreção de progesterona pelo corpo lúteo e a síntese de testosterona pelas células de Leydig no testículo. A pró-opimelanocortina é clivada em um número de diferentes moléculas, incluindo a ACTH.
Temos ainda que a β-lipotrofina é liberada pela hipófise, mas sua função lipolítica em seres humanos é incerta. A β-endorfina é um outro produto da clivagem liberado pela glândula hipófise.
Glândula pineal
Essa estrutura encontra-se inferior ao esplênio do corpo caloso, do qual está separada pela tela corióidea do terceiro ventrículo.
A pineal é uma glândula endócrina de grande importância regulatória. Ela modifica a atividade da adeno-hipófise, da neuro-hipófise, da parte endócrina do pâncreas, das paratireoides, do córtex suprarrenal e das gônadas. Seus efeitos são largamente inibitórios. Acredita-se que a indolamina e os hormônios polipeptídicos secretados pelos pinealócitos reduzam a síntese e a liberação de hormônios pela parte distal da adeno- hipófise, seja por ação direta sobre suas células secretoras, seja indiretamente através da inibição à produção dos fatores liberadores hipotalâmicos.
As secreções da pineal podem atingir suas células-alvo através do líquido cerebrospinal ou pela corrente sanguínea. Algumas indolaminas da glândula pineal, incluindo a melatonina e as enzimas para sua biossíntese (p. ex., serotonina-N-acetiltransferase) apresentam ritmos circadianos em concentração. O nível eleva-se durante a escuridão e cai durante o dia, quando a secreção pode ser inibida pela atividade simpática. Considera-se que a ritmicidade intrínseca de um oscilador circadiano endógeno no núcleo supraquiasmático do hipotálamo controla o comportamento cíclico da pineal.

Órgão subcomissural
O órgão subcomissural situa-se ventral e inferiormente à comissura posterior, próximo da parede inferior do recesso pineal. As células ependimárias na face dorsal do aqueduto do mesencéfalo são altas, colunares e ciliadas, elas podem estar envolvidas na secreção de materiais no líquido cerebroespinal a partir de terminais axônicos ou capilares adjacentes.
Aparentemente, interfere na homeostase hídrica e no equilíbrio salino, tendo sido considerado, inclusive, como regulador da sede.

Glândula tireoide
A glândula tireoide localiza-se anteriormente na região inferior do pescoço, ao nível da quinta vértebra cervical até a primeira torácica. Consiste em dois lobos – direito e esquerdo – unidos por um istmo estreito e mediano. A glândula é ligeiramente mais pesada nas mulheres e normalmente aumenta durante a menstruação e a gravidez.
Suas unidades funcionais são formadas por folículos contendo um núcleo coloide central. O coloide consiste quase exclusivamente em uma glicoproteína iodada, iodotireoglobulina, que é a forma inativa, armazenada de hormônios tireóideos, tri-iodotironina (T3) e tetraiodotironina ou tiroxina (T4), que irão regular o metabolismo do organismo. Além disso, a tireoide também produz o hormônio peptídico calcitonina (tireocalcitonina) o qual reduz o cálcio sanguíneo por meio da inibição da reabsorção óssea e recuperação de cálcio de infiltrados do túbulo renal.

Glândula paratireoide
As glândulas paratireoides são estruturas pequenas geralmente situadas entre as margens lobar posterior da glândula tireoide e sua cápsula. Tipicamente, há duas de cada lado – superior e inferior, mas podem haver mais ou apenas três; ou muitas ilhas de minúsculas glândulas paratireoides podem subsistir dispersas no tecido conjuntivo próximo aos locais habituais. Muito ocasionalmente, uma glândula oculta pode acompanhar um vaso sanguíneo em direção a um sulco na superfície da tireoide.
Normalmente, as paratireoides inferiores migram apenas para os polos tireoideos inferiores, mas podem descer com o timo em direção ao tórax ou podem ser sésseis e permanecer acima do seu nível normal próximo da bifurcação carótica.
As paratireoides sintetizam e secretam hormônio paratireoide (PTH, paratormônio), um polipeptídeo de cadeia única de resíduos de 84 aminoácidos relacionada com o controle do nível e da distribuição de cálcio e fósforo.

Timo
O timo é um dos dois órgãos linfoides primários (além da medula óssea). Trata-se de um órgão bilobado, encapsulado e macio; com suas duas partes se encontrando unidas na linha mediana por tecido conjuntivo que se mescla com a cápsula de cada lobo. Estes lobos normalmente podem ter aderências com o pericárdio fibroso.
O timo é maior no início da vida, particularmente à época da puberdade, e persiste ativamente na velhice, apesar da considerável degeneração fibroadiposa, a qual às vezes obscurece a existência do tecido tímico. A maior parte do timo se encontra no mediastino superior e na parte anterior do mediastino inferior.
Essa glândula é responsável pelo fornecimento de linfócitos T (processados no timo) para todo o corpo e proporciona um microambiente único, no qual os precursores das células T (timócitos) sofrem o desenvolvimento, a diferenciação e a expansão clonal para liberar a resposta perfeitamente específica pelas células T; adquirindo simultaneamente a tolerância imunológica aos componentes do próprio corpo. Estas etapas envolvem íntimas interações entre os timócitos e outras células (principalmente células epiteliais e células apresentadoras de antígenos) e fatores químicos no ambiente tímico. O timo também é parte dos eixos neuroimunológico e neuroendócrino do corpo, e influencia e é influenciado pelos produtos destes eixos. Sua atividade, portanto, varia durante toda a vida sob a influência de diferentes estados fisiológicos, condições patológicas e insultos químicos, tais como hormônios, drogas e poluentes.

Glândula suprarrenal
As glândulas suprarrenais encontram-se imediatamente superiores e ligeiramente anteriores ao polo superior de cada rim. A glândula suprarrenal apresenta uma camada cortical externa, que tem tonalidade amarelada e constitui sua massa principal; e uma medula delgada, que constitui cerca de um décimo da glândula e tem tonalidade vermelho-escura ou acinzentada. A medula é completamente envolvida pela cortical, exceto no hilo. A glândula tem uma espessa cápsula de tecido conjuntivo denso, da qual partem trabéculas que se estendem profundamente para seu córtex.
As células corticais produzem vários hormônios e as células das zonas fasciculada e reticulada também são ricas em ácido ascórbico. As células da zona glomerulosa produzem mineralocorticoides (como a aldosterona), os quais regulam o equilíbrio eletrolítico e hídrico. As células na zona fasciculada produzem hormônios que mantêm o equilíbrio de carboidratos (glicocorticoides), como o cortisol (ou hidrocortisona). As células na zona reticulada produzem hormônios sexuais (progesterona, estrógenos e andrógenos).
Por outro lado, as células medulares sintetizam, armazenam (em grânulos) e liberam as catecolaminas noradrenalina (ou norepinefrina) e adrenalina (ou epinefrina), que podem estar em conjunto da encefalina, que é uma proteina semelhante a opioides que pode ter efeito analgésico. A liberação está sob controle simpático pré-ganglionar, mediada pelos neurônios simpáticos que ocorrem isoladamente ou em pequenos grupos na medula.

Pâncreas
O pâncreas é a maior das glândulas do sistema digestório e realiza funções tanto endócrinas como exócrinas. A maior parte do órgão tem função exócrina e secreta diversas enzimas A função endócrina do pâncreas é realizada por células que estão espalhadas por toda a estrutura da glândula, as quais participam na homeostase da glicose e que também estão envolvidas no controle da motilidade e da função da parte gastrointestinal alta.
A parte endócrina do pâncreas consiste nas ilhotas pancreáticas, compostas por grupos esféricos ou elipsoides de células incrustados no tecido exócrino. O pâncreas humano pode conter mais de um milhão de ilhotas, que em geral são mais numerosas na cauda. As células mais numerosas, tipos alfa e beta, secretam glucagon e insulina, respectivamente. A insulina é responsável pelo mecanismo de entrada de glicose na célula e seu déficit ou má-ação pode causar a diabetes mellitus. Já o glucagon tem o efeito oposto – responder por um aumento de glicose no sangue. O terceiro tipo – a célula delta – secreta somatostatina. Este hormônio tem efeito inibitório sobre vários mecanismos, como nas secreções gástricas, e no glucagon. Ainda considerando o terceiro tipo, a gastrina atua estimulando as secreções gástricas e a motilidade do estômago.

Ovários
Esses órgãos do sistema reprodutor feminino estão detalhadamente descritos em seus respectivos roteiros. No quesito hormonal, secreta no seu corpo lúteo por meio das células granulosoluteínicas a progesterona. Esta estimula as células do embrioblasto a se proliferarem e garante a nidação e a futura formação da placenta. Também é o responsável pela continuidade da gravidez pois evita a descamação do próprio endométrio.
O estradiol é produzido pelas mesmas células, tendo efeito sobre o ciclo menstrual e também na composição óssea. Os estrógenos são produzidos nas células foliculares, estando relacionada com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de características femininas.

Testículos
Os testículos são órgãos do sistema reprodutor masculino e suas estruturas são descritas no seu respectivo roteiro. Neles encontram-se as células de Leydig, que são responsáveis pela produção dos hormônios andrógenos, como a testosterona.
