12- Sistema Endócrino

Mauro Bezerra Montello1

1Bacharel em Fisioterapia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ex-monitor do Programa de Monitoria da área V,

As glândulas endócrinas, também chamadas de glândulas sem ducto ou de secreção interna, estão representados por órgãos relativamente pouco volumosos e localizados ao longo do corpo. Por não possuírem ductos excretores, essas glândulas lançam seus respectivos produtos de secreção – os hormônios, substâncias químicas sintetizadas parcialmente ou totalmente por elas – diretamente na corrente sanguínea.

Os hormônios são os mensageiros químicos produzidos nas glândulas endócrinas cuja função é a manutenção da homeostase, mantendo o equilíbrio interno sadio para fazer frente a um ambiente externo mutável.

Glândulas Endócrinas

Além de diversas glândulas principais, células endócrinas isoladas também encontram-se dispersas entre outros tecidos e fazem parte do sistema neuroendócrino disperso (difuso). Estão, por exemplo, dispostas nos tratos alimentar e respiratório. As células neuroendócrinas estão geralmente situadas dentro de um epitélio mucoso, e suas bases muitas vezes repousam sobre a lâmina basal. Em resposta a um estímulo externo, secretam o seu produto basalmente dentro do líquido intersticial.

Aqui foram apenas relacionadas as principais estruturas classificadas como glândulas endócrinas:

  • Glândula hipófise;
  • Glândula pineal;
  • Órgão subcomissural;
  • Glândula tireoide ;
  • Glândula paratireoides ;
  • Timo ;
  • Glândula suprarrenal ;
  • Pâncreas;
  • Ovários;
  • Testículos.

Glândula hipófise

Também reconhecida como glândula pituitária, trata-se de uma estrutura ovoide contínua com o infundíbulo, um prolongamento inferior oco, de formato cônico, derivado do túber cinéreo do hipotálamo. Encontra-se dentro da fossa hipofisial do osso esfenoide, onde é coberta superiormente por um diafragma da sela, de formato circular, derivado da meninge dura-máter. Esta última é perfurada centralmente por uma abertura para o infundíbulo e separa a face anterossuperior da glândula hipófise do quiasma óptico.

A glândula hipófise tem duas partes principais, a neuro-hipófise (posterior) e a adeno-hipófise (anterior), as quais diferem em sua origem, estrutura e função. A neuro-hipófise é uma evaginação do assoalho do diencéfalo, conectada ao hipotálamo. Já a adeno-hipófise é um derivado da membrana bucofaríngea.

Figura 1. Visão geral da glândula hipófise.

Neuro-hipófise

Os neuro-hormônios armazenados na principal parte da neuro-hipófise são a vasopressina (ou hormônio antidiurético, ADH) – que controla a reabsorção de água pelos túbulos renais, e a oxitocina – que promove a contração da musculatura lisa uterina durante o parto e a ejeção do leite pela mama durante a lactação.

Os grânulos de armazenamento que contêm os polipeptídeos hormonais ativos ligados a uma glicoproteína transportadora, a neurofisina, seguem ao longo dos axônios a partir do seu local de síntese nos corpos celulares dos neurônios.

Adeno-hipófise

A maioria dos hormônios sintetizados pela adeno-hipófise é trófica. Incluem o hormônio do crescimento (GH, um peptídeo), envolvido no controle do crescimento do corpo, e a prolactina (também um peptídeo), que estimula o crescimento do tecido da mama e a secreção do leite. Os hormônios tróficos glicoproteicos incluem a pró-opimelanocortina, o grande precursor da adrenocorticotrofina (ACTH), a qual controla a secreção de certos hormônios do córtex da suprarrenal; o hormônio estimulador da tireoide (TSH); o hormônio folículo-estimulante (FSH), que estimula o crescimento de folículos ovarianos e a secreção de estrógenos pelo ovário, e a espermatogênese (atuando sobre as células testiculares de Sertoli); e o hormônio luteinizante (LH), que induz a secreção de progesterona pelo corpo lúteo e a síntese de testosterona pelas células de Leydig no testículo. A pró-opimelanocortina é clivada em um número de diferentes moléculas, incluindo a ACTH.

Temos ainda que a β-lipotrofina é liberada pela hipófise, mas sua função lipolítica em seres humanos é incerta. A β-endorfina é um outro produto da clivagem liberado pela glândula hipófise.

Glândula pineal

Essa estrutura encontra-se inferior ao esplênio do corpo caloso, do qual está separada pela tela corióidea do terceiro ventrículo.

A pineal é uma glândula endócrina de grande importância regulatória. Ela modifica a atividade da adeno-hipófise, da neuro-hipófise, da parte endócrina do pâncreas, das paratireoides, do córtex suprarrenal e das gônadas. Seus efeitos são largamente inibitórios. Acredita-se que a indolamina e os hormônios polipeptídicos secretados pelos pinealócitos reduzam a síntese e a liberação de hormônios pela parte distal da adeno- hipófise, seja por ação direta sobre suas células secretoras, seja indiretamente através da inibição à produção dos fatores liberadores hipotalâmicos.

As secreções da pineal podem atingir suas células-alvo através do líquido cerebrospinal ou pela corrente sanguínea. Algumas indolaminas da glândula pineal, incluindo a melatonina e as enzimas para sua biossíntese (p. ex., serotonina-N-acetiltransferase) apresentam ritmos circadianos em concentração. O nível eleva-se durante a escuridão e cai durante o dia, quando a secreção pode ser inibida pela atividade simpática. Considera-se que a ritmicidade intrínseca de um oscilador circadiano endógeno no núcleo supraquiasmático do hipotálamo controla o comportamento cíclico da pineal.

Figura 2. Visão geral da glândula pineal. Fonte própria.

Órgão subcomissural

O órgão subcomissural situa-se ventral e inferiormente à comissura posterior, próximo da parede inferior do recesso pineal. As células ependimárias na face dorsal do aqueduto do mesencéfalo são altas, colunares e ciliadas, elas podem estar envolvidas na secreção de materiais no líquido cerebroespinal a partir de terminais axônicos ou capilares adjacentes.

Aparentemente, interfere na homeostase hídrica e no equilíbrio salino, tendo sido considerado, inclusive, como regulador da sede.

Figura 3. Glândula hipófise, pineal e o órgão subcomissural

Glândula tireoide

A glândula tireoide localiza-se anteriormente na região inferior do pescoço, ao nível da quinta vértebra cervical até a primeira torácica. Consiste em dois lobos – direito e esquerdo – unidos por um istmo estreito e mediano. A glândula é ligeiramente mais pesada nas mulheres e normalmente aumenta durante a menstruação e a gravidez.

Suas unidades funcionais são formadas por folículos contendo um núcleo coloide central. O coloide consiste quase exclusivamente em uma glicoproteína iodada, iodotireoglobulina, que é a forma inativa, armazenada de hormônios tireóideos, tri-iodotironina (T3) e tetraiodotironina ou tiroxina (T4), que irão regular o metabolismo do organismo. Além disso, a tireoide também produz o hormônio peptídico calcitonina (tireocalcitonina) o qual reduz o cálcio sanguíneo por meio da inibição da reabsorção óssea e recuperação de cálcio de infiltrados do túbulo renal.

Figura 4. Visão geral da glândula tireoide. Fonte própria.

Glândula paratireoide

As glândulas paratireoides são estruturas pequenas geralmente situadas entre as margens lobar posterior da glândula tireoide e sua cápsula. Tipicamente, há duas de cada lado – superior e inferior, mas podem haver mais ou apenas três; ou muitas ilhas de minúsculas glândulas paratireoides podem subsistir dispersas no tecido conjuntivo próximo aos locais habituais. Muito ocasionalmente, uma glândula oculta pode acompanhar um vaso sanguíneo em direção a um sulco na superfície da tireoide.

Normalmente, as paratireoides inferiores migram apenas para os polos tireoideos inferiores, mas podem descer com o timo em direção ao tórax ou podem ser sésseis e permanecer acima do seu nível normal próximo da bifurcação carótica.

As paratireoides sintetizam e secretam hormônio paratireoide (PTH, paratormônio), um polipeptídeo de cadeia única de resíduos de 84 aminoácidos relacionada com o controle do nível e da distribuição de cálcio e fósforo.

Timo

O timo é um dos dois órgãos linfoides primários (além da medula óssea). Trata-se de um órgão bilobado, encapsulado e macio; com suas duas partes se encontrando unidas na linha mediana por tecido conjuntivo que se mescla com a cápsula de cada lobo. Estes lobos normalmente podem ter aderências com o pericárdio fibroso.

O timo é maior no início da vida, particularmente à época da puberdade, e persiste ativamente na velhice, apesar da considerável degeneração fibroadiposa, a qual às vezes obscurece a existência do tecido tímico. A maior parte do timo se encontra no mediastino superior e na parte anterior do mediastino inferior.

Essa glândula é responsável pelo fornecimento de linfócitos T (processados no timo) para todo o corpo e proporciona um microambiente único, no qual os precursores das células T (timócitos) sofrem o desenvolvimento, a diferenciação e a expansão clonal para liberar a resposta perfeitamente específica pelas células T; adquirindo simultaneamente a tolerância imunológica aos componentes do próprio corpo. Estas etapas envolvem íntimas interações entre os timócitos e outras células (principalmente células epiteliais e células apresentadoras de antígenos) e fatores químicos no ambiente tímico. O timo também é parte dos eixos neuroimunológico e neuroendócrino do corpo, e influencia e é influenciado pelos produtos destes eixos. Sua atividade, portanto, varia durante toda a vida sob a influência de diferentes estados fisiológicos, condições patológicas e insultos químicos, tais como hormônios, drogas e poluentes.

Figura 6. Timo em indivíduo adulto. Fonte: https://www.studyblue.com/notes/note/n/apr-module-10/deck/5255684

Glândula suprarrenal

As glândulas suprarrenais encontram-se imediatamente superiores e ligeiramente anteriores ao polo superior de cada rim.  A glândula suprarrenal apresenta uma camada cortical externa, que tem tonalidade amarelada e constitui sua massa principal; e uma medula delgada, que constitui cerca de um décimo da glândula e tem tonalidade vermelho-escura ou acinzentada. A medula é completamente envolvida pela cortical, exceto no hilo. A glândula tem uma espessa cápsula de tecido conjuntivo denso, da qual partem trabéculas que se estendem profundamente para seu córtex.

As células corticais produzem vários hormônios e as células das zonas fasciculada e reticulada também são ricas em ácido ascórbico. As células da zona glomerulosa produzem mineralocorticoides (como a aldosterona), os quais regulam o equilíbrio eletrolítico e hídrico. As células na zona fasciculada produzem hormônios que mantêm o equilíbrio de carboidratos (glicocorticoides), como o cortisol (ou hidrocortisona). As células na zona reticulada produzem hormônios sexuais (progesterona, estrógenos e andrógenos).

Por outro lado, as células medulares sintetizam, armazenam (em grânulos) e liberam as catecolaminas noradrenalina (ou norepinefrina) e adrenalina (ou epinefrina), que podem estar em conjunto da encefalina, que é uma proteina semelhante a opioides que pode ter efeito analgésico. A liberação está sob controle simpático pré-ganglionar, mediada pelos neurônios simpáticos que ocorrem isoladamente ou em pequenos grupos na medula.

Figura 7. Visão geral da glândula suprarrenal. Fonte própria.

Pâncreas

O pâncreas é a maior das glândulas do sistema digestório e realiza funções tanto endócrinas como exócrinas. A maior parte do órgão tem função exócrina e secreta diversas enzimas A função endócrina do pâncreas é realizada por células que estão espalhadas por toda a estrutura da glândula, as quais participam na homeostase da glicose e que também estão envolvidas no controle da motilidade e da função da parte gastrointestinal alta.

 A parte endócrina do pâncreas consiste nas ilhotas pancreáticas, compostas por grupos esféricos ou elipsoides de células incrustados no tecido exócrino. O pâncreas humano pode conter mais de um milhão de ilhotas, que em geral são mais numerosas na cauda. As células mais numerosas, tipos alfa e beta, secretam glucagon e insulina, respectivamente. A insulina é responsável pelo mecanismo de entrada de glicose na célula e seu déficit ou má-ação pode causar a diabetes mellitus. Já o glucagon tem o efeito oposto – responder por um aumento de glicose no sangue.  O terceiro tipo – a célula delta – secreta somatostatina. Este hormônio tem efeito inibitório sobre vários mecanismos, como nas secreções gástricas, e no glucagon. Ainda considerando o terceiro tipo, a gastrina atua estimulando as secreções gástricas e a motilidade do estômago.

Figura 8. Visão geral do pâncreas. Fonte própria.

Ovários

Esses órgãos do sistema reprodutor feminino estão detalhadamente descritos em seus respectivos roteiros. No quesito hormonal, secreta no seu corpo lúteo por meio das células granulosoluteínicas a progesterona. Esta estimula as células do embrioblasto a se proliferarem e garante a nidação e a futura formação da placenta. Também é o responsável pela continuidade da gravidez pois evita a descamação do próprio endométrio.

O estradiol é produzido pelas mesmas células, tendo efeito sobre o ciclo menstrual e também na composição óssea. Os estrógenos são produzidos nas células foliculares, estando relacionada com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de características femininas.

Figura 9. Visão geral do ovário. Fonte própria.

Testículos

Os testículos são órgãos do sistema reprodutor masculino e suas estruturas são descritas no seu respectivo roteiro. Neles encontram-se as células de Leydig, que são responsáveis pela produção dos hormônios andrógenos, como a testosterona.

Figura 10. Visão geral do testículo. Fonte própria.