27. Telencéfalo

Anna Beatriz Fontes de Holanda¹, Mateus Antonio Albuquerque Costa¹ e Weslley Robson Marques Silva de Freitas¹

¹Acadêmico em Fisioterapia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e monitor no Programa de Monitoria da área V.

Introdução

De acordo com a divisão anatômica do sistema nervoso central (SNC), o telencéfalo representa uma subdivisão do cérebro. É formado por dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, e pela lâmina terminal que está situada na porção anterior do III ventrículo. Representa a maior parte do encéfalo, em razão do grande desenvolvimento durante a evolução das espécies, o que torna o cérebro humano bastante complexo e especializado.

Fig. 1. Divisão anatômica do sistema nervoso. Fonte: Autoria própria.

Hemisférios cerebrais

Os hemisférios cerebrais são compostos pelo córtex cerebral – a camada mais externa constituída de substância cinzenta – e por uma massa interna de substância branca – as fibras de associação inter (fibras comissurais) e intra-hemisféricas, além das fibras de projeção – que envolve relativamente os núcleos da base. Neste também se encontram as áreas corticais sensoriais e motoras primárias. A fissura longitudinal (inter-hemisférica) é uma fenda profunda que divide-os imperfeitamente; ainda assim, são capazes de trocar informações através de um largo feixe de fibras mielínicas que estão situadas numa estrutura, o corpo caloso.

Apresentam depressões em sua superfície, denominadas de sulcos (ou fissuras), que delimitam circunvoluções no córtex cerebral – os giros. Essa forma convoluta tem a função de aumentar a superfície de contato sem ampliar o volume cerebral, fazendo com que o número de neurônios dentro do cérebro seja elevado e por isso permita maior processamento de informações e melhoria nos controles das habilidade cognitivas.

É importante ressaltar que a caracterização dos sulcos apresenta variabilidade quanto ao tamanho, direção e, até mesmo, conexões entre eles. Podem ser classificados em quatro tipos:

  • Axiais – desenvolvidos ao longo de uma área homogênea e suas invaginações formam subgiros.
  • Limitantes – localizados em áreas corticais funcionalmente diferentes.
  • Operculares – também localizado em áreas corticais diferentes, mas apenas superficialmente, viabilizando, assim, a presença de uma terceira área funcional no seu assoalho ou paredes.
  • Completos – sulcos de cuja profundidade que podem acarretar elevações nas paredes dos ventrículos laterais.

O sulco lateral e parieto-occipital seriam duas exceções para essa classificação.

Ademais, existem dois sulcos presentes na superfície de cada hemisfério, que apresentam maior constância e costumam ser de fácil identificação: o sulco central (de Rolando) dispõe-se obliquamente a face dorsolateral de cada hemisfério, separando os lobos frontal e parietal. Inicia seu trajeto na face medial – em torno da borda superomedial – do hemisfério e segue para frente e para baixo até findar seu percurso próximo ao ramo posterior do sulco lateral.

Fig. 2. Setas indicando o trajeto do sulco central na face dorsolateral do telencéfalo. Fonte: Adaptado de Standring (2010).

O sulco lateral (ou fissura lateral) emerge da face inferior do hemisfério e dirige-se para a superfície dorsolateral do cérebro, onde termina e origina três ramos: os ramos ascendente e anterior, que seguem para o lobo frontal, além do ramo posterior, o qual assume um trajeto por toda a face dorsolateral do hemisfério até o lobo parietal. Este sulco é responsável por acomodar vasos cerebrais médios.

Fig. 3. Sulco lateral evidenciado pelo tracejado em verde. Fonte: Anatpat Unicamp.

Os sulcos também são responsáveis por dividir cada hemisfério em cinco lobos, que são nomeados, em grande parte, de acordo com o osso craniano suprajacente. São eles: lobo frontal, parietal, occipital e temporal. Já o lobo da ínsula está localizado profundamente a fissura (ou sulco) lateral.

Fig. 4. Vista a partir da face dorsolateral do hemisfério esquerdo destacando a divisão por lobos. Fonte: The University of Queensland.

Cada hemisfério cerebral é dividido, ainda, em três faces (ou superfícies), a fim de delimitar áreas para que possam ser estudadas de formas individuais, fazendo com que haja um melhor entendimento. A seguir está uma descrição mais detalhada de cada face.

Face dorsolateral (convexa): Considerada a maior das faces cerebrais, está relacionada com todos os ossos que compõem a parte superior e lateral do crânio. Além disso, ela é a única face que pode-se notar os cinco lobos cerebrais (frontal, parietal, temporal, occipital e ínsula – rebatendo os lobos temporal e parietal).

Face medial (plana): Para ocorrer a visualização por esta face, é necessário um corte sagital mediano no cérebro. Após a secção será evidenciado o diencéfalo e outras formações telencefálicas entre os hemisférios (corpo caloso, fórnix e septo pelúcido), as quais serão brevemente resumidas neste roteiro.

Face inferior, ou base do cérebro (irregular): Pode ser dividida em duas partes, as quais irão pertencer a diferentes lobos, a parte menor está relacionada ao lobo frontal e encontra-se sobre a fossa anterior do crânio. Por outro lado, a parte maior, pertence quase que em sua totalidade ao lobo temporal, e encontra-se acima da fossa média do crânio, em contato com a tenda do cerebelo.

Fig. 5. Faces do telencéfalo. Fonte: Adaptado de Standring (2010) e Anatpat Unicamp.

Cada hemisfério apresenta três extremidades, chamadas polos, que na parte mais extrema anteriormente encontra-se o pólo frontal, posteriormente se localiza o pólo occipital e o limite anterior do lobo temporal é o pólo temporal.

Fig. 6. Polos cerebrais marcados com um círculo vermelho. Fonte: Adaptado de Standring (2010).

Para um melhor entendimento dos lobos, giros e sulcos, vamos seguir a disposição mais presente na literatura na qual são enunciadas as estruturas de acordo com as faces visualizadas durante as práticas de anatomia.

Lobo Frontal

Corresponde a maior área dos hemisférios cerebrais, localizada anteriormente e possui os seguintes sulcos e giros:

FACE DORSOLATERAL: Por ela é possível visualizar os sulcos pré-central, quase paralelamente ao sulco central, que delimitam o giro pré-central – onde está a predominante área motora do cérebro-  além dos  sulcos frontal superior e inferior e seus respectivos giros frontais superior, médio e inferior. O giro frontal inferior é diferenciado em três partes:

  • Parte Orbital ou Orbicular – curva-se para baixo
  • Parte Triangular – morfologia semelhante a de um triângulo
  • Parte Opercular – conectada posteriormente ao giro pré-central

As partes opercular e uma porção da parte triangular do hemisfério esquerdo constituem uma das áreas primárias da linguagem, a Área de Broca, responsável pela motricidade da fala.

Fig. 7. Giros do lobo frontal visualizados pela face dorsolateral. Fonte: Site auladeanatomia.com.
Fig. 8. Localização das partes do giro frontal inferior. Fonte: Anatpat Unicamp.
Fig. 9. Área de Broca evidenciada em vermelho. Fonte: Site amenteemaravilhosa.com.

FACE MEDIAL: Nesta face pode-se destacar sulcos internos que vão do lobo frontal ao parietal, como o sulco do corpo caloso, que contorna o tronco e esplênio do corpo caloso,e sulco do cíngulo paralelamente a ele. Estes sulcos delimitam o giro do cíngulo. A margem superior do sulco do cíngulo observa-se o sulco paracentral e juntos eles delimitam o lóbulo paracentral – relacionado com as áreas motoras sensitivas da perna e pé.

Fig. 10. Estruturas do lobo frontal pela face medial. Fonte: Adaptadado de Netter.

FACE INFERIOR: Estão localizados o sulco olfatório, que abriga o bulbo e trato olfatório, e medialmente a ele está o giro reto (considerado anatomicamente o mais constante do cérebro), os sulcos orbitários (anterior, posterior, medial e lateral) e os giros orbitários presentes lateralmente ao sulco olfatório (o posterior conecta-se a porção anterior da ínsula pelo fascículo uncinado, enquanto os demais conectam-se aos giros frontais superior, médio e inferior).

Fig. 11. Estruturas do lobo frontal visualizadas inferiormente. Fonte: Site auladeanatomia.com.

Lobo Temporal

FACE DORSOLATERAL: Este lobo está situado logo abaixo do sulco lateral e é delimitado posteriormente por uma linha arbitrária no encontro do sulco parieto-occipital e da incisura pré-occipital. Inferiormente ao sulco lateral estão localizados, respectivamente, os sulcos temporal superior e temporal inferior, que delineiam os giros temporais superior, médio e inferior. Existem alguns giros transversos que emergem do giro temporal superior, interiormente, direcionados a uma porção inferior do sulco circular da ínsula. Dentre eles, destaca-se o giro temporal transverso anterior (ou de Heschl). Essa região constitui a área cortical auditiva primária.

FACE INFERIOR: Destaca-se em sua extremidade lateral, o sulco occipito-temporal que delimita o limite inferior do giro temporal inferior, assim como, medialmente demarca o giro occípito-temporal lateral. Continuando em direção à linha sagital mediana do telencéfalo, encontra-se o sulco colateral que, por sua vez, limita com o sulco calcarino (lobo occipital) e o sulco do hipocampo, os giros occipito-temporal medial e parahipocampal, respectivamente. A porção anterior do giro parahipocampal se curva internamente na direção do sulco do hipocampo, formando o úncus.

Fig. 12. Giro parahipocampal destacado em azul. Fonte: Site: wikipedia.com
Fig. 13. Linhas pontilhadas marcando os sulcos temporais. Fonte: Site auladeanatomia.com.
Fig. 14. Giros temporais em destaque. Fonte: Site auladeanatomia.com.

Lobo Parietal

FACE DORSOLATERAL: Localizado posteriormente ao lobo frontal, tem dois sulcos principais, o sulco pós-central, em que entre ele e o sulco central se encontra o giro pós-central, no qual está a importante área somestésica, e o sulco intraparietal, direcionado perpendicularmente ao pós-central. Este divide o lobo parietal em duas partes, lóbulo parietal superior e lóbulo parietal inferior, o qual é subdividido em três porções (anterior, média e posterior). Na parte anterior do lóbulo parietal inferior está situado o giro supramarginal, enquanto na porção média encontra-se o giro angular.

Fig. 15. Linhas pontilhadas marcando os sulcos parietais. Fonte: Site auladeanatomia.com.
Fig. 16. Giros parietais em destaque. Fonte: Site auladeanatomia.com.

Lobo Occipital

FACE DORSOLATERAL: Destaca-se nessa face, sulcos e giros com grande variação. Dentre os mais comuns, encontramos o sulco occipital anterior, que se dispõe   verticalmente e está localizado posteriormente a linha imaginária que separa este lobo e o lobo parietal. Pode haver um ou dois sulcos dispostos em sentido horizontal, delimitando os giros occipitais superior, médio e inferior. O sulco lunatus representa uma variação anatômica, e dispõe frontalmente ao pólo occipital.

FACE MEDIAL: Localizado na porção mais posterior dos hemisférios cerebrais, está intimamente ligado ao processamento dos estímulos visuais, pois é nos lábios do sulco calcarino que se encontra a maior parte da área 17 de Brodmann, ou o córtex visual primário. Este lobo é separado do parietal e temporal pelos sulcos parieto-occipital, e calcarino, respectivamente. Dentre esses sulcos, está o cúneos, que por sua vez é um giro complexo em formato triangular, o qual é precedido pelo pré-cúneos, localizado no lobo parietal.

FACE INFERIOR: Após o sulco calcarino, em sentido inferior, está o giro occipito-temporal lateral ou giro fusiforme, o qual segue anteriormente em sentido ao lobo temporal com o giro para-hipocampal.

Fig. 17. Linhas pontilhadas marcando os sulcos temporais. Fonte: Site auladeanatomia.com.
Fig. 18. Giros occipitais em destaque. Fonte: Site auladeanatomia.com.

Lobo da Ínsula

Este lobo é visto somente pela face medial, embora ainda não se tenha conhecimento completo sobre suas funções, julga-se que o segmento está relacionado com o olfato, paladar, desejos, vícios e algumas funções somatossensoriais. Ademais, foi comprovado uma importante atuação mediante desordens psicológicas como em ataque de pânico, esquizofrenia, transtornos obsessivos-compulsivos.

A ínsula é coberta por áreas corticais adjacentes pertencentes aos lobos parietal e temporal, os opérculos (frontal, frontoparietal e temporal), ela se localiza profundamente, no assoalho do sulco lateral, e só pode ser evidenciado com o afastamento dos lábios desse sulco. O lobo insular possui forma cônica, e na parte medial do seu ápice, voltado para a parte inferior e anterior, está localizado o límen da ínsula (giro ambiens). Além disso, é circundado em sua borda superior pelo sulco circular, e é dividido em duas partes (anterior e posterior) pelo sulco central da ínsula, o qual em sua parte anterior está localizado os giros curtos da ínsula, dividido por alguns sulcos rasos. Por outro lado, em sua parte posterior, está situado um giro longo que é geralmente dividido em sua parte superior.

Fig. 19. Linhas pontilhadas marcando os sulcos insulares. Fonte: Site auladeanatomia.com.
Fig. 20. Giros insulares em destaque. Fonte: Site auladeanatomia.com.

Córtex Cerebral

É constituído de uma complexa rede de neurônios, fibras nervosas, células da glia e vasos sanguíneos. Representa toda a superfície dos hemisférios cerebrais, caracterizando-o como a maior estrutura encefálica. Os neurônios presentes no córtex podem ser divididos, com base no tamanho e no formato, em três grupos:

  • Células piramidais: cujo seu nome deriva do formato do corpo celular,  possuem um axônio que, geralmente, descende e transpassa a substância branca caracterizando funções efetoras. São as mais numerosas dentre os três tipos.
  • Células estreladas (ou granulares):caracterizam-se como os principais interneurônios do córtex. Estabelecem muitas sinapses com fibras aferentes e permitem a complexidade de circuitos corticais. Este grupo de células pode subdividir-se em outros tipos de neurônios.
  • Células fusiformes: apresentam um único axônio descendente que ultrapassa a substância branca. Estão, principalmente, ligadas às ações efetoras.

Divisão filogenética

O córtex é formado por um neocórtex (ou isocórtex) e um alocórtex que inclui o arquicórtex, referente a formação hipocampal, e o paleocórtex, localizado na região do córtex olfatório. Cerca de 95% da região cortical corresponde ao neocórtex sendo o  mais recente filogeneticamente dentre os três.

Divisão citoarquitetônica

Por conta da sua vasta densidade, o neocórtex é dividido em seis camadas (lâminas) celulares. São elas:

  Camada molecular ou plexiforme (I)É a mais lâmina mais superficial. Contém poucos neurônios, mas muitos dendritos e axônios. Apresenta bastantes fibras dispostas horizontalmente, nas colorações para mielina.
Camada granular externa (II)Possui células granulares mais abundantes, quando comparados às células piramidais.
  Camada piramidal externa (III)Neurônios piramidais prevalecem nesta camada. Contém muitas fibras de associação e comissurais (inter-hemisféricas).
  Camada granular interna (IV)A fibras provenientes do tálamo chegam ao córtex por esta camada, tornando-a bastante desenvolvida em áreas sensitivas. Neurônios granulares estão em maior número.
  Camada piramidal interna ou ganglionar (V)É a origem de grande parte das fibras de projeção eferentes para outras estruturas subcorticais. As células piramidais constituem estão em maior número.
Camada multiforme ou fusiforme (VI)É a camada mais interna e se relaciona diretamente com a substância branca. Apresenta fibras de associação e projeção.

Vale ressaltar esta classificação é considerada imprecisa quando usada para entender a organização funcional do córtex.

Fig. 21. Representação das lâminas do neocórtex. À esquerda da linha vermelha está o método de coloração de Golgi, à direita o método de Nissl. Fonte: site University of Minnesota: http://vanat.cvm.umn.edu/.

Levando em consideração a organização vertical das camadas, onde algumas possam estar virtualmente ausentes ou indiferenciáveis, divide-se o neocórtex em cinco tipos de variações regionais. Nos padrões homotípicos,todas as 6 camadas estão bem definidas, correspondendo aos tipos 2, 3 e 4. Já os grupos 1 e 5, são denominados heterotípicos,pois não é possível identificar com clareza cada lâmina. No tipo 1, as células granulares estão em número bastante reduzido, caracterizando o córtex agranular que está ligado às áreas corticais motoras. O tipo 5 apresenta grande quantidade de neurônios granulares, sendo chamado de córtex granular, sendo encontrado, principalmente, em áreas sensitivas.

Uma outra divisão citoarquitetônica é bastante usada na clínica e na pesquisa científica. Em 1909, o médico alemão Korbinian Brodmann identificou 52 regiões no córtex, que ficaram conhecidas como as áreas de Brodmann. Com o passar dos anos surgiram novas subdivisões e adequações dessas zonas, ajudando cada vez mais no entendimento do córtex.

Fig. 22. Delimitação das áreas de Brodmann. (A) Face dorsolateral; (B) Face medial. Fonte: Standring (2010).
Fig. 23. Regiões de relevância funcional no córtex cerebral. Fonte: Meneses (2015).

Classificação funcional

Pode-se dividir em duas grandes áreas:

  • Áreas de projeção (primárias): Se encontram em íntima relação com fibras que estão diretamente ligadas com a sensibilidade e com a motricidade, caracterizando dois subtipos: as áreas sensitivas e as motoras. O córtex motor primário e o córtex somatossensorial primário representam exemplos claros das áreas primárias.
  • Áreas de associação: São as demais áreas funcionais. Dividem-se em: áreas secundárias (unimodais), pois mantém relação com modalidades sensoriais ou motoras e áreas terciárias (supramodais) relacionadas com funções psíquicas superiores.
Fig. 23. Diagrama demonstrando a divisão funcional do córtex cerebral. Fonte: Adaptado de Machado (2014)

Ventrículos laterais.    

Localizados internamente de ambos hemisférios cerebrais, essas cavidades revestidas por epêndima são integrantes do sistema ventricular encefálico, o qual é responsável por secretar o líquido cerebrospinal (LCS) ou líquor, por meio dos plexos corióides (ausentes nos cornos anterior e posterior), cuja função primordial é a proteção do SNC contra choques mecânicos. Os ventrículos laterais, esquerdo e direito, comunicam-se com o III ventrículo por meio do forame interventricular. Ademais, eles são estruturas análogas a um “C” (visto pela face medial) que possuem uma parte central e três cornos, os quais são correspondentes aos polos cerebrais (frontal, temporal e occipital) que se projetam. Sendo assim, o corno anterior, projeta-se ao lobo frontal; o corno inferior, ao lobo temporal; o corno posterior, ao lobo occipital.

Além disso, vale ressaltar que a maioria das partes dos ventrículos laterais, com exceção do corno inferior, tem o teto formado pelo corpo caloso, o qual sendo removido, expõe a cavidade ventricular. Por sua vez, o corno anterior é limitado anteriormente pela face posterior do joelho e do rostro do corpo caloso, sua parede medial é formada pelo septo pelúcido, estrutura responsável por separar as partes centrais dos ventrículos laterais, já a parede lateral e o assoalho são formados pela cabeça do núcleo caudado. Por outro lado, a parte central se estende do forame interventricular até o esplênio do corpo caloso, onde a cavidade divide-se em cornos inferior e posterior, em uma região chamada trígono colateral, além disso tem sua parede medial formada pelo septo pelúcido, e o assoalho apresenta as seguintes formações: Fórnix, parte lateral da face dorsal do tálamo, plexo corióide, estria terminal e núcleo caudado.

Ademais, o corno posterior, o qual se curva posteromedialmente até o lobo occipital, suas paredes são formadas por fibras do corpo caloso, em quase toda a sua extensão. Por último, o corno inferior, que por sua vez é o maior compartimento do ventrículo lateral, ele curva-se inferiormente e anteriormente em direção ao polo temporal, o seu teto é formado pela cauda do núcleo caudado e a estria terminal, e tem o seu assoalho formado por duas eminências alongadas, a eminência colateral, formada pelo sulco colateral, e o hipocampo o qual é uma elevação curva, localizada acima do giro parahipocampal.

Fig. 24. Encéfalo em corte sagital mediano, face medial, a seta verde evidencia o ventrículo lateral com a abertura do septo pelúcido, com suas estruturas adjacentes. Fonte: Anatpat Unicamp.
Fig. 25. Morfologia dos ventrículos laterais. Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Organização interna

Cada hemisfério cerebral possui uma organização interna que consiste em uma camada superficial de substância cinzenta, o córtex cerebral, o qual foi abordado anteriormente, este córtex reveste um centro de substância branca, o centro branco medular do cérebro. Além disso, interiormente a essa substância branca existem massas de substância cinzenta, as quais consistem em um aglomerado de neurônios existentes na porção basal do cérebro, denominados núcleos da base, anatomicamente conhecidos como: O núcleo caudado, o putâmen e o globo pálido, que juntos formam o núcleo lentiforme, o claustrum, o núcleo accumbens e o corpo amigdalóide.

Fibras de associação intra-hemisféricas: Também chamadas de fibras de associação, as quais podem ser curtas (arqueadas em forma de “U”) ou longas, as curtas podem ser inteiramente intracorticais, associando áreas vizinhas do córtex, como por exemplo unir alguns giros adjacentes ao passar de um sulco para outro. Por sua vez, as fibras de associação longas conectam áreas corticais mais distantes, para isso se unem em fascículos, dentre os principais feixes estão: O fascículo do cíngulo, o qual percorre o giro cingulado e une o lobo frontal ao temporal; o fascículo longitudinal superior, ou fascículo arqueado que está intimamente ligado com a linguagem, pois estabelece a união entre a área de Broca e à área de Wernicke, lesões neste fascículo pode determinar distúrbios de linguagens denominados afasias; já o fascículo longitudinal inferior é o responsável por unir o lobo occipital ao lobo temporal, suas fibras iniciam-se nas áreas 18 e 19 seguem anteriormente, onde se separam do corno posterior do ventrículo lateral por fibras comissurais, e então se distribuem por todo o lobo temporal; por último o fascículo unciforme, responsável por ligar o lobo frontal ao lobo temporal, suas fibras seguem um trajeto curvilíneo passando pelo fundo do sulco lateral.

Fibras de associação inter-hemisféricas (comissurais):

Comissura anterior: Consiste em um feixe compacto de fibras nervosas mielínicas, que partem da parede anterior do terceiro ventrículo. Lateralmente, ela se divide em porções anterior e posterior, a porção anterior é olfatória, intimamente ligada à bulbos e tratos olfatórios. Por outro lado, a porção posterior, não olfatória, está relacionada a conexão com os lobos temporais, incluindo o giro-parahipocampal.

Comissura do fórnix: Pouco desenvolvida no homem, ela se encontra no ponto em que as pernas do fórnix se separa, sendo formada por fibras que se dispõem entre elas e estabelecem uma conexão entre os dois hipocampos.

Corpo caloso: Dividido em esplênio, tronco, joelho e rostro do corpo caloso. É a maior das junções inter-hemisféricas, formada por fibras mielínicas que perpassam o plano sagital mediano e adentram de cada lado no centro branco medular do cérebro, o que promove união de ambos hemisférios por meio da junção das suas áreas corticais simétricas.

Septo pelúcido: Localizado entre o corpo caloso e o fórnix, é constituído por duas lâminas delgadas de tecido nervoso, as quais delimitam uma cavidade muito estreita, a cavidade do septo pelúcido. Ademais, é responsável por separar os ventrículos laterais.

Fibras de projeção: Constituídas de fibras mielínicas, elas são responsáveis por conectar o córtex aos centros subcorticais no encéfalo e na medula espinal. Elas incluem um grande número de fibras corticofugais (eferentes), que convergem de diversas direções e formam a densa massa de substância branca da coroa radiada, e as fibras corticopetais (aferentes), as quais seguem para o corpo estriado, para o tálamo, e perpassa pelas fibras comissurais do corpo caloso.

Coroa radiada e cápsula interna: Formadas por conjuntos de fibras de projeção do telencéfalo, destaca-se a cápsula interna por conter a maior parte destas fibras, por sua vez ela é contínua superiormente com a coroa radiada, e inferiormente com a base do pedúnculo cerebral. Ademais, a cápsula interna é dividida em três partes (a perna anterior, perna posterior e o joelho) ela é muito importante por conter as radiações talâmicas (óptica e auditiva), as quais são fibras vindas do tálamo em direção ao córtex, além disso perpassam pela cápsula interna as fibras originadas no córtex que formam os tratos descendentes (corticoespinal, corticonuclear e corticopontino), além das fibras corticoreticulares e corticoestriatais.

Cápsula externa e extrema: Ambas são formadas por feixes de substância branca, diferem-se na sua localização, a cápsula externa por sua vez situa-se entre o núcleo lentiforme e o claustrum, além de recobrir a porção lateral do putamen. Já a cápsula extrema está sob córtex insular, onde irá se dispor a substância cinzenta que constitui o claustro.

Referências:

MOORE, Keith L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

STANDRING, S; Gray’s: Anatomia – A base anatômica para a clínica. 40. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

MENESES, Murilo S. Neuroanatomia aplicada. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

MACHADO, Angelo B. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu. 2014.

TELENCÉFALO. Aula de anatomia, 2020. Disponível em: <https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-nervoso/telencefalo/>. Acesso em: 16 de junho de 2020.

CÉREBRO E CÓRTEX CEREBRAL. Kenhub, 2020. Disponível em: <https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebro&gt;. Acesso em: 04 de junho de 2020.

THE CEREBRAL CORTEX. Review of clinical and functional neuroscience – swenson. Disponível em: <https://www.dartmouth.edu/~rswenson/NeuroSci/chapter_11.html#:~:text=Layer%20I%20is%20the%20molecular,the%20multiform%2C%20or%20fusiform%20layer>. Acesso em: 27 de julho de 2020.