
Khalydia Oliveira Aby Faraj¹ e Gabriella Rafael Coelho Mavignier de Noronha¹
¹Acadêmico em Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e monitor no Programa de Monitoria da área III.
Introdução
O pescoço é uma região de grande importância na área da saúde, sendo estudada por diversas especialidades, uma vez que reúne numerosas estruturas essenciais para a manutenção da vida e homeostase. Artérias e veias calibrosas que fazem a vascularização da região da cabeça e da massa encefálica, bem como importantes nervos que se comunicam com tórax e abdome que descendem por essa região, tornam sua topografia objeto de aprofundado estudo. Todas as estruturas são suportadas pelos músculos dessa região, que são subdivididos em infra-hióideos, supra-hióideos, pré-vertebrais e superficiais.
Músculos do pescoço
1. Músculos superficiais
- Músculo platisma:
É um dos músculos da expressão facial. É delgado e largo, recobrindo a maior parte das regiões lateral e anterior do pescoço. Tem origem na fáscia muscular que reveste a porção superior dos músculos peitoral maior e deltóide.
Após sua origem, tem trajeto ascendente no pescoço, localizando-se na região anterolateral na tela subcutânea. Contorna a margem inferior do corpo da mandíbula e algumas de suas fibras dirigem-se até a comissura oral, onde se misturam com as fibras dos músculos dispostos ao redor da boca.
Sua função é elevar e puxar para frente a pele do pescoço e ombro, e é inervado pelo ramo cervical do nervo facial (VII).
- Músculo esternocleidomastóideo:
Cruza obliquamente o pescoço, profundamente ao músculo platisma. Uma de suas principais funções é proteger os grandes vasos do pescoço (artéria carótida e veia jugular interna) que se localizam no plano mais profundo a ele. Esse músculo divide a parte lateral do pescoço em dois trígonos, o anterior e o posterior. Apresenta duas cabeças na sua origem, uma cabeça esternal (originada no manúbrio do esterno) e outra cabeça clavicular (originada no terço medial da clavícula). Insere-se superiormente no processo mastoide do temporal e na metade lateral da linha nucal superior do occipital, sendo inervado pelo nervo acessório XI. De maneira isolada atua inclinando a cabeça para o mesmo lado em direção ao ombro; agindo em conjunto move a cabeça para frente, além de ser m. auxiliar da inspiração, no qual eleva o esterno e a clavícula para expandir a caixa torácica.
- Músculo Trapézio:
É um músculo largo, de forma triangular, localizado superficialmente no dorso, estendendo-se do pescoço até o tórax. Juntos, os dois músculos trapézios apresentam um formato de um losângulo. Sua origem é na linha superior da nuca, na protuberância occipital externa e nos processos espinhosos das últimas vértebras cervicais e de todas as vértebras torácicas. O músculo trapézio divide-se em fibras superiores (de trajeto descendente), fibras médias (parte transversa de trajeto horizontal) e fibras inferiores (de trajeto ascendente). As fibras superiores, médias e inferiores convergem para se inserirem na parte posterior e superior do terço lateral da clavícula. As fibras superiores elevam o ombro e as fibras médias o retraem e fixam a escápula. Já as fibras inferiores deprimem a escápula. É inervado pelo nervo acessório XI e em parte pelo plexo cervical.
2. Músculos supra-hióideos
Os músculos supra-hióideos devido às suas ações conjuntas com infra-hióideos são descritos como os músculos extrínsecos da laringe. São quatros músculos localizados entre o osso hioide e a mandíbula e a base do crânio, que possuem a função de elevar o osso hioide e a laringe. Atuam também nos movimentos mastigatórios.
- Digástrico:
É um músculo com dois ventres, um ventre anterior e um ventre posterior, unidos por um tendão intermediário que se fixa no osso hioide. O ventre posterior origina-se da incisura mastóidea do osso temporal e dirige-se para baixo, para frente e medialmente onde se fixa indiretamente no osso hioide pelo tendão intermediário. Desse ponto, continua-se com ventre anterior que se fixa na fossa digástrica da mandíbula. É um músculo elevador do osso hioide quando a boca está fechada, por se fixar na mandíbula. Porém, torna-se um músculo que deprime e retrai a mandíbula quando seu ponto fixo é o osso hioide.
O ventre anterior do músculo digástrico e o músculo gênio-hióideo são os músculos responsáveis pelo movimento de abertura inicial da boca. O ventre posterior atua como estabilizador do osso hióide.
- Músculo estilo-hióideo :
É um músculo delgado que se estende do processo estilóide ao osso hioide estando paralelo e superior ao ventre posterior do músculo digástrico. Se origina no processo estiloide e se insere no corno maior do osso hióide. Sua ação é elevar e retrair o osso hióide, alongando dessa forma o assoalho da boca.
- Músculo milo-hióideo :
É um músculo delgado e laminar que forma o assoalho da cavidade oral. Separa anatomicamente a cavidade oral do pescoço, e as duas porções desse músculo estão unidas na linha mediana pela rafe milo-hióidea. Origina-se na linha milo-hióideia da mandíbula. Suas fibras mais posteriores dirigem-se para baixo e medialmente para se fixar no corpo do osso hióide. Sua principal ação é sustentar e elevar o assoalho da boca. Juntamente com músculo digástrico e o músculo estilo-hióideo eleva o osso hióide, e com ele a laringe, durante a fase involuntária da deglutição.
- Músculo gênio-hióideo:
É um feixe muscular alongado, situado acima do milo-hióideo. Origina-se no tubérculo inferior da espinha mentual e insere-se na metade superior do corpo do osso hioide. Sua ação, levando em consideração a mandíbula como ponto fixo, é elevar o hioide e consequentemente o assoalho da boca durante a deglutição. Quando os músculos infra-hióideos agem imobilizando o osso hióide, o gênio-hióideo torna-se depressor da mandíbula.
Os músculos supra-hióideos são inervados pelos nervos trigêmeo, facial e hipoglosso.


3. Músculos infra-hióideos
Os músculos infra-hióideos são um grupo de quatro músculos abaixo do osso hioide, que se inserem no esterno e escápula. São eles:
- Músculo omo-hióideo:
Possui dois ventres, um superior e outro inferior, sua origem se dá na borda superior da escápula (ventre inferior) e tendão intermédio (ventre superior) se inserindo no tendão intermédio (ventre inferior) e corpo do osso hióideo (ventre superior). Sua inervação ocorre pela alça cervical profunda (C1-C3) e sua principal função é deprimir o osso hióide.
- Músculo esterno-tireóideo:
Sua origem é na superfície dorsal do manúbrio do esterno, se inserindo na cartilagem tireóidea, sendo também inervado pela alça cervical profunda (C1-C3) e tendo como principal função deprimir a laringe.
- Músculo tíreo-hióideo:
Possui origem na linha oblíqua da cartilagem tireóidea e inserção no corpo e corno maior do osso hioide. Sua inervação é pela raiz superior da alça cervical (C1) e nervo hipoglosso (NC XII) e ele auxilia o músculo omo-hióideo na função de abaixar o osso hióide e, se opondo a função do esterno-tireóideo, ele eleva a laringe.
- Músculo esterno-hióideo:
Esse músculo tem origem na superfície dorsal do manúbrio do esterno e articulação esternoclavicular, se inserindo no corpo do hioide. Possui inervação da alça cervical profunda (C1-C3) e está envolvido na depressão do osso hióide.
4. Músculos pré-vertebrais
- Longo da cabeça:
Sua origem se dá no tubérculo anterior da apófise transversa de C3 a C6, se inserindo na porção basilar do osso occipital. É inervado pelos ramos anteriores dos nervos espinhais de C1 a C3, com a função de flexionar a cabeça.
- Longo do pescoço:
Possui origem nos corpos das vértebras de C5 a T3 e nas apófises transversas de C3 a C5, se inserindo no tubérculo anterior do atlas, corpos de C1 a C3 e apófises transversas de C3 a C6. Sua inervação ocorre pelos ramos anteriores dos nervos espinhais de C2 a C6 e sua principal função é a flexão anterior e lateral do pescoço, com rotação ligeira para o lado oposto.
- Reto anterior da cabeça:
Esse músculo possui origem na porção lateral do atlas e se insere na porção basilar do osso occipital. O ramo anterior do 1º nervo espinhal (C1) é responsável pela inervação. O movimento realizado com sua contração é a flexão da cabeça na articulação atlanto-occipital.
- Reto lateral da cabeça:
Sua origem se dá na apófise transversa do atlas com inserção na porção basilar do osso occipital, sendo inervado eminentemente pelo ramo anterior do 1º nervo espinhal (C1). Sua função é a flexão lateral da cabeça para o mesmo lado.
- Esplênio da cabeça
Origina-se nos processos espinhosos de C1 a C6, face lateral do processo mastoide e terço lateral da linha nucal superior. É inervado pelos ramos posteriores dos nn. espinais cervicais intermédios. Sua ação é a flexão lateral da cabeça, além de rodar cabeça e o pescoço homolateralmente.
- Levantador da escápula
Se origina superiormente nos tubérculos posteriores dos processos transversos das vértebras C2 à C6. Inferiormente, se insere na parte superior da margem medial da escápula. É inervado pelo nervo dorsal da escápula C5 e nn. espinais cervicais C3 e C4, tendo como função elevar e rodar inferiormente a escápula.
- Escaleno anterior
Sua origem se dá nos tubérculos anteriores dos processos transversos da 3ª à 6ª vértebras cervicais, e a inserção na face superior da 1º costela (tubérculo do escaleno anterior). A Inervação é feita pelos ramos dos nervos cervicais inferiores. Quando contraído ele eleva a primeira costela e inclina homolateralmente o pescoço.
- Escaleno médio
A origem desse músculo se dá nos tubérculos anteriores dos processos transversos das vértebras C2 à C7 e na face superior da 1ª costela. É inervado pelos ramos dos nervos cervicais inferiores e sua ação consiste na elevação da primeira costela e inclinação homolateral do pescoço.
- Escaleno posterior
Superiormente, o escaleno posterior se origina nos tubérculos posteriores dos processos transversos da 5ª à 7ª vértebras cervicais. Já inferiormente, a inserção é na face superior da 2ª costela. A inervação deste músculo é feita pelos ramos anteriores dos três últimos nervos cervicais. A principal ação do escaleno posterior é a elevação da segunda costela e inclinação homolateral do pescoço.

Referências
NETTER, Frank H.. Atlas de anatomia humana. 7ª ed. RIO DE JANEIRO: Elsevier, 2019.
MOORE K. L.; DALLEY, A. F. . Anatomia orientada para a clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
TEIXEIRA, L.M.S.; REHER, P.; REHER, V.G.S. Anatomia Aplicada a Odontologia. 2ª. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008.