O Estômago de Rasputin

Bento João G. A. Abreu

Grigori Rasputin (1869 – 1916) é considerado uma das figuras mais controversas da história russa; em parte por se autoproclamar santo e por supostamente ser dotado de poderes místicos de cura, embora também por ter adquirido íntima relação com a família imperial durante o reinado do poderoso czar Nicolau II (1868 – 1918).

Isto porque a czarina Alexandra Feodorovna, esposa de Nicolau II, desenganada por ter de lidar com a doença de seu filho Alexei, o qual padecia de hemofilia, buscava em Rasputin conselhos e formas de tratar a doença. Acreditava-se então que os métodos exóticos de Rasputin eram capazes de aliviar as dores e sangramentos do jovem príncipe, o que fortaleceu seu status na corte imperial.

Não demorou para Rasputin passar a se intrometer em assuntos políticos do Império Russo, e, tamanha influência, somada a seu comportamento extravagante e moralmente duvidoso, logo atraiu a ira de desafetos na corte. Mesmo antes de seu assassinato em 1916, Rasputin já havia sofrido algumas tentativas de envenenamento, geralmente a partir do uso de cianeto em sua comida. Sabe-se que, no estômago, o cianeto reage com o ácido clorídrico do suco gástrico e então forma o ácido cianídrico. Este é extremamente tóxico e venenoso e, ao ser absorvido pelos vasos sanguíneos da mucosa, leva à morte por anóxia química.

Ocorre que Rasputin teria sobrevivido a um desses ataques. Ele era portador de deficiência congênita de ácido clorídrico estomacal. A partir desse fato histórico, surgiu a expressão “estômago de Rasputin”, metáfora utilizada para designar aquelas pessoas que possuem uma tolerância incomum a alimentos, bebidas ou substâncias que normalmente causariam danos ou mal-estar. Ou seja, pessoas que comem de tudo, nunca têm azia e que são até mesmo capazes de resistir a substâncias tóxicas ou nocivas sem sofrer consequências graves, têm o chamado “estômago de Rasputin”!

Referência

Armando J. C. Bezerra. Admirável Mundo Médico: a arte na história da medicina. 3a Edição. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, 2006.

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