Rodson Ricardo do Nascimento
Introdução
Em 1975, o cantor Jorge Ben Jor lançou a canção “Jorge da Capadócia” sobre o guerreiro e protomártir cristão. Infelizmente, poucas pessoas conhecem a história de São Jorge. Mesmo que você não conheça bem essa história, é muito provpável que já tenha visto a cruz de São Jorge em muitos lugares – seja na bandeira da Inglaterra ou em faixas de futebol. É porque São Jorge não é apenas o padroeiro da Inglaterra… O patrocínio de Jorge estende-se, entre outros, a Geórgia (sem surpresa), Moldávia, Palestina e Etiópia. A música de Ben Jor faz referência às “armas de São Jorge”. Mas que armas seriam essas e qual a sua relação com a Anatomia?
As Armas de São Jorge
O que conhecemos como “as armas de São Jorge” foi, na verdade, uma das relíquias mais famosas da história, depois da Cruz de Cristo e da Lança Sagrada, é claro! A principal relíquia medieval atribuída ao santo turco era o seu braço direito. Jorge foi um oficial do império romano, martirizado por Diocleciano em 303 por não ter renunciado à sua fé em Cristo. Desde então ele passou a ser associado aos soldados e guerreiros. Seu túmulo foi encontrado após a ocupação da primeira cruzada. Segundo a tradição, foram resgatados ossos da costela e do crânio, mas o braço encontrava-se preservado. Ele foi presentado à abadia de Anchin, na França. As demais relíquias foram divididas entre os cruzados. Poucos sabem, mas existem ossos de São Jorge na Capela real inglesa até hoje. Na Itália, a Paróquia de São Jorge, em Veneza, alega ter o famoso Braço do Santo Guerreiro. Em 1978 foi realizado um estudo antropológico e anatômico da referida relíquia: “O estudo confirmou que todas essas relíquias devem ter pertencido ao mesmo sujeito masculino, com cerca de vinte anos, que viveu por volta do início do século IV.”
O Simbolismo do Braço
Para a Anatomia o braço é a região do membro superior que se estende do ombro até a articulação do cotovelo e que se conecta inferiormente ao antebraço através da fossa cubital. Lá se encontram importantíssimos músculos que realizam flexão ou extrensão do cotovelo, além da supinação do antebraço. Mas o braço é muito mais que isso… O braço direito tem um significado espiritual profundo em muitas culturas e crenças. Geralmente, está associado a força, poder e ação.
Em muitas tradições religiosas e espirituais, o braço direito é considerado um símbolo do poder e da proteção divina. No antigo Egito, a deusa Ísis era frequentemente retratada segurando um cetro na mão direita, e acreditava-se que isso poderia proteger seus adoradores do perigo. No hinduísmo, o braço direito está associado ao dharma ou retidão. No budismo, o braço direito é visto como um símbolo de compaixão e generosidade. Na medicina chinesa, o braço direito está associado ao elemento metal, que representa força e resiliência. Na Cabalá judaica, o braço direito está associado à sefirá de Chesed, que representa bondade amorosa e misericórdia.
Assim, o braço direito é visto como o braço dominante e é usado para tarefas que exigem força e poder. Este simbolismo se estende também à força espiritual e psicológica. O braço direito pode representar nossa capacidade de agir e superar obstáculos na vida. Este é o sentido mais profundo do braço de São Jorge.
Os escritores bíblicos frequentemente se referiam ao seu “poderoso é”: “Teu braço é poderoso. Sua mão é forte. Sua mão direita está erguida (Sl 89:13). A ideia por trás desta imagem simbólica é tão óbvia que as traduções modernas muitas vezes transmitem o significado diretamente.
Mas o braço não é símbolo apenas de força. O braço é também sinal de proteção e amor. Isaías refere-se ao braço de Deus com mais frequência do que qualquer outro livro bíblico (quatorze vezes). Entre elas está uma imagem profética do cuidado compassivo de Deus para com o seu povo, mesmo depois de ter corrigido-o severamente: “Como um pastor, ele cuida do seu rebanho. Ele reúne e os abraça. Ele os carrega nos braços” (Isaias 40:11). Cristo morreu “de braços abertos” como de braços abertos foi feita a imagem do Cristo Redentor do Rio de Janeiro. O simbolismo bíblico do braço também é encontrado no lema do nosso exército: “Braço forte. Mão amiga”.