De Volta para o Efeito Florence Nightingale

Bento J Abreu

Foi num final de semana qualquer que tive a oportunidade de apresentar à chamada geração alpha um verdadeiro clássico do cinema – De Volta para o Futuro. Desculpe-me pelo queixume, mas não se fazem mais filmes como esse… Protagonizado por Michael J Fox e Cristopher Lloyd, este filme reunia todos os elementos que fizeram vibrar uma geração: aventura, comédia, ficção e romance… Ali estavam tantas referências que, vez por outra, sentia a necessidade de ver e rever suas minúcias na saudosa Sessão da Tarde, época na qual havia na TV aberta um entretenimento honesto e despretencioso.

Bem, pude constar nessa oportunidade que a então jovem mãe de Marty McFly, Lorraine, se apaixonara pelo próprio filho (ela não sabia disso, obviamente!) após cuidar de suas feridas pós-atropelamento. De acordo com o Dr. Emmet Brown, isto seria fruto de um suposto Efeito ou Síndrome de Florence Nightingale. Tal fenômeno ocorre (SIC) quando um profissional da saúde, tal como um enfermeiro, por exemplo, demonstra tanto zelo e compaixão pelo paciente que acaba se apaixonando por ele.

O Efeito Florence Nightingale faz menção à famosa britânica que é considerada a fundadora da Enfermagem Moderna (Southern, 2017). Nascida em uma família de muitas posses, Florence Nightingale (1820-1910) escolhera uma carreira na Enfermagem, uma profissão então considerada inadequada para mulheres de sua classe, tendo ganhado notoriedade durante a Guerra da Crimeia (1853-1856). Nesta ocasião, Florence liderara um grupo de enfermeiras para cuidar dos soldados feridos, tendo introduzido práticas sanitárias inovadoras, as quais reduziram drasticamente a mortalidade hospitalar. Foi então apelidada de “Dama da Lâmpada”, já que costumava visitar seus pacientes à noite.

Após a guerra, Florence continuou a advogar por reformas na saúde pública e na educação de enfermeiras. Em 1860, fundou a Escola de Enfermagem Nightingale no Hospital St. Thomas, em Londres, a primeira instituição secular de formação de enfermeiras do mundo.

Além de ter fornecido subsídios para o incremento de sua profissão, Florence continua sendo lembrada como um símbolo de compaixão e dedicação à melhoria das condições de saúde e tratamento dos doentes. Daí, não causa estranheza emprestar seu nome a esse efeito que, pasmem!, não é reconhecido pela literatura científica! Sim, nobre leitor, não há nada que comprove a existência desse efeito ou síndrome, sendo algo aparentemente circunscrito à cultura popular…

Referências:

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Southern J. A Lady ‘in Proper Proportions’? Feminism, Lytton Strachey, and Florence Nightingale‘s Reputation, 1918-39. 20 Century Br Hist. 2017 Mar 1;28(1):1-28. doi: 10.1093/tcbh/hww047.

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