Uma das coisas que mais me chama a atenção no início do semestre letivo é a grande curiosidade que o estudo com os cadáveres e peças dissecadas desperta nos estudantes de Anatomia Humana, jovens recém-ingressos na universidade e que conservam aquele frescor da vida associado à busca por seus sonhos e ambições. Assim, o estudo da Anatomia e das peças anatômicas poderia representar algo paradoxal para esse público, o qual comumente vivencia um sentimento misto de fascínio e aversão, talvez por acreditarem que aquilo represente o próprio manuseio da morte.
Penso que tal sentimento híbrido tenha impelido a escritora leiga em Anatomia – Mary Roach – a redigir “Curiosidade Mórbida – a ciência e e a vida secreta dos cadáveres”. Neste livro de leitura leve, dinâmica e repleto de curiosidades históricas, o cadáver é uma vivalma, um verdadeiro personagem principal, mas que funciona mais como uma ferramenta pragmática que permeia diversos momentos da história e da ciência. Em diversas ocasiões, a autora exagera no tom irônico e sarcástico da obra, o que revela mais sobre a percepção geral sobre o tema (excêntrico?) e, a bem da verdade, mostra-se bastante eficaz em manter a atenção do leitor.
Os capítulos sobre crimes anatômicos, o estudo da balística em cadáveres e “como saber se você está morto”, em especial, são de grande destaque e frequentemente uso alguns exemplos e citações ali explorados durante minhas aulas.
Apesar de não se tratar de um livro de Anatomia Humana, acredito que todo professor e aluno da ciência usufruiria ao máximo a experiência em ler “Curiosidade Mórbida” juntamente com um livro clássico…
Dr Bento J Abreu
Editor do site, professor, pesquisador e interessado em assuntos atuais.
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