Os professores devem fornecer os slides de aulas para os alunos?

Quando ingressei na universidade no hoje longínquo ano de 1999 não existiam slides de powerpoint, páginas na internet e aplicativos tridimensionais dedicados à Anatomia Humana. O professor proferia todo o conteúdo por meio do bom e velho “quadro e giz” e, quando muito, projetava de forma improvisada uma ou outra transparência com os tópicos mais complexos na lousa. Mesmo com as exímias explanações durante as aulas, para ser bem sucedido numa disciplina como a Anatomia, revisar as anotações de aula periodicamente e abusar do livro-texto e um atlas (eu acompanhava as aulas pelo Sobotta) era questão de sobrevivência. Ao contrário do que se pode imaginar, o número de reprovações era exíguo e os alunos das ciências biológicas e da saúde realmente dominavam o conteúdo ministrado. Bem, pelo menos esta é a minha percepção…

Passados quase 20 anos, a disciplina expandiu suas ferramentas e os discentes contam, como já supracitado, com inúmeras estratégias para facilitar o aprendizado sobre o corpo humano. Uma dessas estratégias envolve o fornecimento do slides da aula em powerpoint, um mero resumo do conteúdo apresentadopara os próprios alunos via email ou por um sistema digital de gestão acadêmica.

Obviamente, isso é alvo de grande debate e celeuma entre os docentes pois pode envolver diversas variáveis como 1) uso e divulgação de propriedade intelectual, 2) desincentivo de leitura da bibliografia convencional e para 3) tomar anotações durante as aulas, 4) passividade do aluno, 5) perfil e tipo das aulas, 6) popularidade do professor etc.

Considerando que o discente é apenas capaz de registrar cerca de 30-40% do conteúdo proferido (Williams & Eggert, 2002), com os slides de aula disponíveis poderia facilmente revisar o conteúdo no conforto do lar. Interessantemente, 63% de membros de uma faculdade de negócios que participaram de um questionário admitiram que o simples fornecimento de slides do curso os desencorajava a tomar suas próprias anotações. É algo a se pensar…

Buscando elucidar assunto tão pertinente para a docência, Worthington e Levasseur (2015) buscaram avaliar a frequência e o desempenho dos alunos quando se provê ou não os slides de aulas. Comparando-se dois grupos de estudantes universitários, os que possuíam acesso às aulas em powerpoint e aqueles que não obtiveram acesso, os autores observaram que não houve discrepâncias na frequência dos alunos entre ambos os grupos. Contudo, o acesso livre aos slides comprometeu o desempenho dos alunos, possivelmente por proporcionar um ambiente passivo de estudo. Um ponto interessante envolveu a sugestão de o uso de slides que possam se associar a anotações durante as aulas, de modo que proporcione maior interação e participação do discente.

A discussão é incipiente e seguirá por muito mais tempo, mas é premente que o aluno tenha em consideração que, a despeito de qualquer estrutura do curso, recursos disponíveis ou perfil do professor, a educação é uma responsabilidade individual e intransferível. Além disso, um espectador ativo que participa de discussões em grupo, domina a prática e inclusive ensina aos demais, possui maiores taxas de retenção de conhecimento se comparado a estudantes passivos, estejam portando ou não os slides de aula…

Dr Bento J Abreu

Editor do site, professor, pesquisador e interessado em assuntos atuais

Referências:

Williams, R. L., & Eggert, A. C. (2002). Notetaking in college classes: student patterns and instructional strategies. Journal of General Education, 51, 173e199.

Debra Worthington & David Levasseur (2015). To provide or not to provide course PowerPoint slides? The impact of instructor-provided slides upon student attendance and performance. Computers & Education 85: 14-22

1 comment

  1. Deve disponibilizar os slides para os alunos sim, é o minimo. Particularmente não gosto de slide pq não da tempo de fazer as anotações correm com o conteúdo devido a facilidade em trocar os slides. Então o justo é disponibilizar. Alem de ir direto ao ponto do que realmente temos que saber em relação ao conteúdo. E pra ser bem sincero sala de aula deveria ser o minimo pro aluno frequentar o certo seria por a mão na massa em práticas. No mercado de trabalho é isso que conta. Se vc tem experiência na área. Um bom profissional é aquele que viveu o conteúdo na prática!

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