
Bento J Abreu
É evidente que qualquer amante da Anatomia Humana possui grande admiração pela obra de Rembrandt van Rijn. No entanto, o tema do presente texto não envolve a “Lição de Dr Tulp”, mas sim um singelo retrato pouco evidenciado no rol das grandes obras do pintor holandês.
O retrato de Maertgen van Bilderbeecq (1633) demonstra domínio do uso do contraste e da iluminação da tela, características marcantes da primeira fase do mestre da pintura. Talvez o que desperte a atenção do leitor seja a presença de um vermelhidão (eritema) característico na região central da face e nariz, dilatação dos pequenos vasos sanguíneos na superfície, além da presença de pápulas, pústulas e telangiectasias.
Segundo discussão com nobres colegas de Anatomia, isso indicaria uma doença chamada Rosácea. Esta refere-se a um problema vascular inflamatório e crônico que acomete adultos entre 30 e 50 anos de idade, sendo mais prevalente em mulheres e indivíduos com pele branca. Os pacientes tendem a reportar ardor, comichão ou sensação de picadas, calor e/ou repuxar no rosto.
Interessantemente, após análise de um autorretrato de Rembrandt que remonta ao ano de 1659, um pesquisador americano (Espinel, 1997) revelou que o próprio autor possuía o nariz alargado, vasos sanguíneos visíveis e em forma de teia-de-aranha e espinhas em várias regiões do rosto, o que indicaria a presença de vários subtipos de Rosácea.

Referência:
Espinel CH. A medical evaluation of Rembrandt. His self-portrait: ageing, disease, and the language of the skin. Lancet. 1997 Dec 20-27;350(9094):1835-7.