
O conceito da pirâmide de Maslow é bastante interessante já que fornece informações sobre as necessidades básicas do ser humano em um ordenamento hierárquico. Assim, na base da pirâmide temos as necessidades fisiológicas – um conjunto de processos biológicos essenciais para qualquer indivíduo. Podemos citar como exemplos o ato de respirar; saciar o sono, a sede ou a fome; descansar, realizar sexo e manter-se em homeostasia. Em contrapartida, o ápice da pirâmide apresenta as necessidades vinculadas à auto-realização as quais perfazem distintos perfis e características individuais, sendo dependentes da criatividade, talento, aspectos educacionais, culturais e/ou religiosos.
Não é de se espantar que os aspectos relacionados à segurança estejam bem próximos da base da pirâmide de Maslow, localizando-se sobrejacentes às necessidades fisiológicas. Também são consideradas necessidades básicas mas que referem-se à proteção da família, da propriedade e da própria vida. Em um país que retém a lamentável posição de campeão de homicídios mundiais, a percepção de que nossa vida está em risco iminente é bastante rotineira e, obviamente, causa enorme preocupação para todos. Afinal, de que adianta matricular-se num curso de línguas ou planejar a próxima viagem se não sabemos se estaremos vivos ao final do dia?!
Por muitos anos, políticos, magistrados e a própria elite intelectual brasileira mostraram-se insensíveis aos anseios da população que clamava avidamente por maior segurança. As respostas costumavam ser superficiais, prolixas ou inócuas; e geralmente encobriam uma chaga facilmente observável na cultura e política nacionais – a bandidolatria explícita.
Diante de tal cenário, qual seria o preço de uma vida? Para dissertar sobre isso, recordo-me de um trecho de “Curiosidade Mórbida” de Mary Roach que intrigou-me por algum tempo. Ali estava apresentado o custo de uma vida calculado pelo Instituto Urbano em 1991, o qual envolvia uma cifra de 2,7 milhões de dólares. Na época, pensava ser uma quantia considerável. Agências de controle estrangeiras, como a Agência Ambiental dos Estados Unidos, apresentam valores bem superiores a fim de regulamentar medidas de segurança por pessoa vitimada por projetos que licencia, podendo chegar até 10 milhões de dólares, por exemplo. Para tanto, utilizam como valor de referência o curioso Valor Estatístico da Vida.
Veja bem, o valor de uma vida, aferido pelo governo, uma empresa aérea ou por uma companhia de seguros, por exemplo, apenas corresponde a um dado bruto. Trata-se de uma vítima e uma resposta deve ser fornecida a fim de se evitar novas tragédias, acidentes ou crimes. Para nós, é despropositado precificar a vida de outrem na frieza dos dados estatísticos. Tais valores não envolvem as diversas variáveis interpessoais e familiares envolvidas na morte de um ente querido. Afinal, partimos do pressuposto que a vida não tem preço. Cada indivíduo é um ser único, dotado de alma e livre-arbítrio; capaz de amar e ser amado; cometer grandes injustiças e maldades assim como conquistar diversas proezas e glórias; podendo produzir produtos insignificantes ou uma magnífica sinfonia. Como precificar algo que não pode ser mensurado?
Nesse sentido, é oportuno destacar um dado que não tem sido devidamente comentado pela grande mídia do país: a significativa redução da criminalidade deste ano se comparado a 2018. Os resultados são animadores! Entre janeiro e maio de 2019, houve redução de 10% no furto de veículos; 11,9% de estupros; 21,3% de homicídios dolosos; 38,4% de roubo a instituição financeira; 23,7% de latrocínio; 24,9% de roubo de carga, entre outros. Estima-se que no primeiro trimestre cerca de 3.600 vidas deixaram de ser ceifadas no país! Para o meu parco conhecimento, não existem dados acerca de vidas salvas/poupadas. Mas se houvessem, incluiriam redução de gastos com segurança; de cirurgias; de atendimentos médicos, fisioterapêuticos e psicológicos; de medicamentos consumidos; de absenteísmo no trabalho; de casos de depressão; de fuga de “cérebros” do país etc; e envolveriam bilhões de reais!
Esqueça redução do risco-país, abertura do mercado ou superávit primário. São assuntos pertinentes sim, é claro!, mas nada comparável ao impacto de milhares de vidas brasileiras que foram poupadas neste curto intervalo de tempo.