
Prof. Dr. Ivson Bezerra da Silva – UFPB
Sabe-se que o coração corresponde ao órgão central do sistema circulatório e funciona como uma bomba contrátil-propulsora, auto-ajustável, cujas porções trabalham em conjunto para impulsionar o sangue para todas as partes do corpo humano (Dangelo & Fattini, 2007; Moore e Dalley, 2007).
Para o correto desempenho de suas funções, o coração apresenta uma complexidade estrutural e funcional. Esta complexidade cardíaca tem feito com que o órgão, assim como as doenças que o afetam, sejam alvo de extensivas pesquisas (Bishopric, 2005). Com o intuito de melhor esclarecer como o coração desempenha sua função de bomba contrátil-propulsora, o anatomista dinamarquês Nicolaus Steno (Niels Stensen, 1638-1686) estabeleceu a natureza muscular do coração em 1663, e desde então entender a disposição do músculo cardíaco tornou-se um fascínio para os pesquisadores das gerações seguintes – Figura 1 (Kocica et al., 2006).

Figura 1 – Quadro de ilustrações demonstrando as maiores contribuições para o entendimento da arquitetura miocárdica. Fonte: Kocica, 2006.
O médico espanhol Francisco Torrent-Guasp (1931-2005) investiu cerca de meio século de sua vida na tentativa de elucidar como as fibras cardíacas estão dispostas e como isso repercute na função do coração. Com seus estudos surgiu um novo conceito denominado de Banda Helicoidal Ventricular do Miocárdio (do ingês HVMB – Helical Ventricular Myocardial Band), trazendo novas ideias para conceitos ultrapassados na medicina cardiovascular. Esse conceito é deslumbrante, pois parece extremamente simples, a princípio, mas maravilhosamente complicado em detalhes (Kocica et al., 2006).
Nas Figuras 2 e 3 é possível observar o resultado de anos de pesquisas relacionado à disposição das fibras musculares cardíacas. Pode-se verificar claramente o miocárdio como um músculo em disposição helicoidal.

O entendimento da disposição helicoidal do miocárdio, o estudo do seu tamanho, forma, conexões e orientação de suas fibras revelaram o comportamento funcional do coração. Esta disposição permite que o miocárdio seja considerado como uma fonte de forças vetoriais interdependentes (forças elétricas e mecânicas), sendo gerado em diferentes intensidades e tempos (Kocica et al., 2006).
O conhecimento anatômico do coração ultrapassa a barreira da simples descrição morfológica. Com o conhecimento da estrutura normal do coração é possível entender a morfologia do coração doente, e só desta maneira é possível prosseguir com a descoberta de novos diagnósticos e terapias para doenças (Buckberg et al., 2004).
Toda essa estrutura especializada cardíaca, em especial das células musculares que compõem o miocárdio, faz com que o órgão funcione mesmo que completamente removido do corpo, desde que seja devidamente perfundido. Isso pode ser conferido graças às propriedades de automaticidade – capacidade de iniciar seu próprio batimento, e ritmicidade – regularidade na atividade de marcapasso (Berne e Levy, 2006).
Referências
Berne e Levy. Fisiologia Humana. Ed. Elsevier, 5 ed., 2009.
Bishopric, N.H. Evolution of the heart from bacteria to man. Ann. N.Y. Acad. Jun, 1047: 13-29, 2005.
Buckberg, G.D.et al. Left ventricular form and function: scientific priorities and strategic planning for development of new views of disease. Circulation 110:333—6, 2004.
Dangelo, J. G., FattiniI, C. A., Anatomia Humana Básica, Atheneu, 2007.
Kocica, M.J.; Corno, A.F.; Carreras-Costa, F.; Ballester-Rodes, M.; Moghbel, M.C.; Cueva, C.N.C.; Lackovic, V.K.; Kanjuh, V.I.; Torrent-Guasp, F. The helical ventricular myocardial band: global, three-dimensional, functional architecture of the ventricular myocardium. Eur. J. Cardiothorac. Surg. 29: S21-40, 2006.
Moore, K.L; Dalley, A.F. Anatomia orientada para a clínica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
👏👏👏👏
CurtirCurtir