
A maconha (Cannabis sativa) é a droga ilícita mais consumida no mundo, mas seu uso não é pode ser considerado algo novo entre os seres humanos. Na verdade, preparações psicoativas de “Marijuana” têm sido utilizadas há mais de 4.000 anos para fins de natureza religiosa ou mesmo médica. Entretanto, nos últimos 50 anos, o consumo recreativo da droga aumentou bruscamente, inicialmente nos países desenvolvidos e, recentemente, em países em desenvolvimento. Segundo estimativas da ONU, o número de usuários atingiu a marca de 181 milhões de indivíduos em 2016 – perfazendo cerca de 4% da população global!
Os possíveis efeitos do uso recreativo da droga e até de seu potencial terapêutico em determinadas condições já são abundantemente abordados pela cultura hegemônica (Figura 1) observada na grande mídia, literatura ou cinema, frequentemente financiados por organizações não-governamentais e pelo próprio governo.

Por outro lado, causa estranheza que seus efeitos adversos no organismo assim como seus riscos diversos para a saúde e ordem pública, apesar de há muito conhecidos, sejam negligenciados ou mesmo omitidos do debate. Dessa maneira, o intuito deste despretensioso texto é tecer apenas considerações acerca dos efeitos adversos do uso da maconha na saúde, além de dissertar sobre suas diversas repercussões para a sociedade a fim de complementar o debate geral sobre uma possível legalização da droga.
Perfil do usuário no Brasil
Para se compreender os efeitos da maconha, é necessário analisar o perfil do indivíduo que consome a droga. Considerando os dados norte-americanos, por exemplo, o uso da maconha tende a iniciar-se na adolescência e pode atingir um pico entre 20-25 anos. O declínio no uso da droga tende a ocorrer a partir da admissão em emprego (em tempo integral), devido ao casamento e/ou em decorrência do nascimento de filhos. Mesmo assim, após o primeiro contato cerca de 10% dos indivíduos tornam-se usuários diários, enquanto que 20-30% mantém um consumo semanal.
No Brasil, muitas informações acerca do perfil do usuário podem ser observadas a partir do último relatório do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras drogas (INPAD). Resumidamente, 7% da população adulta já experimentaram maconha alguma vez na vida, o que representaria algo em torno de 8 milhões de pessoas. Dos usuários adultos no país, 40% são considerados dependentes da droga.
Considerando todos os usuários, 62% dos indivíduos experimentaram a maconha pela primeira vez antes dos 18 anos de idade, dos quais destacam-se os homens, os quais consomem a droga numa proporção 3 vezes maior que as mulheres. Quase 20% dos adolescentes que utilizaram a droga no último ano a adquiriram na própria escola, e um em cada dez adolescentes que a utiliza é tido como dependente. Corroboram com tais dados o estudo de Leão e colegas (2017) que, por meio de um questionário sobre riscos envolvendo 2.207 estudantes entre 13-18 anos em Aracaju (SE), listou os fatores de risco mais prevalentes na juventude. Assim como inatividade física, tempo excessivo na TV, alto consumo de álcool numa única ocasião, envolvimento em brigas, tabagismo, entre outros… lá estava o consumo da maconha. Não chega a ser surpreendente que as classes média e alta apresentem dois ou mais fatores de risco associados, enquanto que adolescentes do sexo feminino e indivíduos de até 16 anos apresentem menores chances de obter dois fatores associados. Em suma, são dados impressionantes e preocupantes para a população de jovens e adolescentes e que pode muito bem ser averiguado no restante do país.
Composição e características associadas ao consumo da maconha
O principal constituinte psicoativo da maconha é o Δ-9-tetrahydrocannabinol (THC), o qual pode representar 0,5-5% da composição da droga comumente consumida. O THC pode agir em dois tipos de receptores: CB1 – presente de forma abrangente em diversas estruturas do sistema nervoso central (hipotálamo, núcleos da base, amígdala, neocórtex, tronco encefálico e medula espinal, hipocampo, cerebelo…), sendo responsável por funções como cognição, memória, recompensa, percepção à dor e coordenação motora; e CB2 – presentes em órgãos periféricos e células do sistema imunológico. É importante ressaltar que o THC pode ser mimetizado por constituintes não-psicoativos – tais como o cannabidiol (CBD). Este composto é reconhecido como um modulador alostérico negativo de THC nos receptores CB1.
Os efeitos da maconha dependem de inúmeras variáveis tais como dose, meio de administração, experiência prévia, humor, expectativa de uso, meio social… O objetivo do consumo é obter euforia moderada; percepções alteradas; relaxamento; para escutar música, fazer sexo ou alimentar-se; aumentar o grau de sociabilidade e propiciar risos frequentes. Os efeitos iniciam-se após 30 min e duram entre 1-2 horas.
É importante relatar que a droga causa baixa intoxicação e a dose letal é bastante rara (15–70 g). Após consumo corriqueiro, os efeitos agudos comuns relatados por usuários envolvem desde ansiedade, reações de pânico bem como sintomas psicóticos. Porém, é durante observação experimental em laboratórios que podem ser detectados situações como: alteração no tempo de reação, alteração no processamento da informação, atenção falha, alterações na coordenação e desempenho motor, distúrbios de comportamento; e as alterações na concentração, nos reflexos e na performance motora podem durar até 24 horas.
Dessa maneira, é comum associar o consumo da maconha a acidentes automobilísticos. De fato, estados americanos onde o consumo da droga foi legalizado, como Colorado, Washington e Oregon (2012-2016), registraram um aumento de 3% em acidentes leves e não-fatais. Na França, 2-5% dos acidentes fatais podem ser relacionados ao uso da maconha. Porém, 29% destes acidentes advém do abuso de álcool. Portanto, apesar de reconhecer-se que o uso da Cannabis aumente em cerca de 2-3 vezes o risco de acidentes, é alarmante constatar que o álcool responda por um aumento desse risco na ordem de 6-15 vezes (Grotenhermen et al., 2007)!
Por outro lado, num estudo envolvendo 64.657 indivíduos, os usuários de maconha apresentaram maior número de hospitalizações por lesões, o que obviamente proporciona repercussões para o sistema público de saúde (Gerberich et al., 2003).
Quais são os efeitos adversos da maconha no sistema reprodutor e no desenvolvimento?
Estudos animais fornecem várias pistas acerca do efeitos da maconha na reprodução e no desenvolvimento (Hall e Degenhardt, 2009). Altas doses da droga, por exemplo, acarretam retardo do crescimento e malformações. Os dados em mulheres grávidas são relativamente escassos e, frequentemente, a mesma população que consome uma droga como a maconha também utiliza outras substâncias durante a gravidez, o que torna difícil isolar a variável de interesse.
Apesar disso, sabe-se que o uso de tabaco ou maconha durante a gravidez reduz significativamente o peso corporal dos bebês (Murray et al., 2007). Os filhos de mulheres que utilizaram a maconha durante a gravidez também tenderam a apresentar défices na memória e coeficiente de inteligência (QI), apesar de alguns dados apresentarem-se conflitantes. Houve, entretanto, aumento da delinquência e problemas comportamentais desses indivíduos a partir dos 10 anos, o que sugere efeitos mais tardios no desenvolvimento.
Efeitos crônicos do uso da maconha
Apesar de já ter sido destacado anteriormente, convém ressaltar que a dependência da droga pode afetar 10% dos indivíduos, e aumenta sistematicamente se o uso iniciou-se na adolescência ou se indivíduo apresentou comportamento errático durante a vida. 30% dos consumidores tornam-se usuários assíduos. A condição de dependência pode promover os típicos sintomas na abstinência: depressão, ansiedade e agressividade, insônia, distúrbios do apetite, náuseas e tremores. Aqueles indivíduos que exibem maior risco de dependência possuem um histórico de baixo aproveitamento acadêmico, comportamento desvirtuado na infância, rebeldia, pobre relacionamento familiar ou parentesco com indivíduos que já referenciaram, problemas com maconha e álcool (Anthony, 2006).
É sabido que aumentou-se consideravelmente a procura de atendimento nos EUA, Europa e Austrália, decorrente de principalmente de problemas advindos da dependência da droga (Hall e Degenhardt, 2009). Interessantemente, após tratamento comportamental-cognitivo para dependência, apenas 15% permanecem abstinentes entre 6-12 meses.
Quais efeitos adversos da maconha no aparelho cardiorrespiratório?
Basicamente, existe um aumento de cerca de 4-8 vezes no risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) após 1 hora de uso da droga; além de aumento da angina em cardiopatas. Ainda, verificou-se aumento nos sintomas de bronquite crônica e infecções respiratórias entre os usuários da droga (Jones, 2002).
É importante salientar que a maconha exibe as mesmas substâncias carcinogênicas e mutagênicas do fumo (veja o vídeo abaixo que demonstra o efeito do cigarro num experimento com algodões). Assim, a fumaça da maconha possui 4 vezes mais alcatrão e 50% mais substâncias carcinogênicas que o cigarro convencional. Interessantemente, o consumo de 3 cigarros de maconha representaria o equivalente a 20 cigarros comuns.
Caso o indivíduo consuma o número superior a 3 cigarros de maconha/dia, vivenciará problemas respiratórios semelhantes aos fumantes crônicos como tosse, catarro e diminuição da capacidade para exercícios. Além disso, o uso crônico de maconha está relacionado a um maior risco de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Quais efeitos adversos da maconha na saúde oral?
No recente estudo de Sordi e colegas (2017), concluiu-se que o uso de drogas ilícitas provocou lesões na mucosa oral, levou a um declínio do fluxo salivar e provocou maior perda de dentes nos usuários da droga. Um aumento na incidência de periodontites também pode ser observada entre os consumidores da maconha.
E quanto aos efeitos adversos da maconha no sistema nervoso?
Aparentemente, alterações cognitivas sutis podem ser observadas em usuários de longo-prazo (Block et al., 2002). No entanto, défices no aprendizado verbal, na memória e na atenção são achados comuns em usuários “pesados” da maconha (Solowij et al., 2002). Deve-se ressaltar que não se sabe se tais achados são causados por efeitos agudos, residuais ou pela exposição cumulativa ao THC.
Parece existir uma recuperação parcial dos défices cognitivos quando o indivíduo cessa o consumo da droga, verificados principalmente após 2 anos (Hall e Solowij, 1998). Mesmo assim, as alterações cerebrais no fluxo sanguíneo cerebral e no eletroencefalograma (EEG) são achados rotineiros na avaliação por imagem de tal população.
Existem efeitos psicossociais da maconha e quais suas repercussões na produtividade?
Como esperado a partir de observação empírica, a maconha está associada a um baixo rendimento educacional (Lynskey et al., 2000). No entanto, resta saber se tal situação seria causa ou consequência do baixo desempenho?
No estudo de Fergusson e Bouden (2008), observou-se que usuários que largaram a escola precocemente têm chances aumentadas de desemprego, dependência do estado de bem-estar social e maior insatisfação pessoal.
Dados brasileiros também revelam que universitários consumidores de maconha tendem a apresentar rendimento inferior em relação aos demais indivíduos que não utilizam a droga.
Existem outros comprometimentos na saúde do consumidor?
Podem ser averiguados esporadicamente entre os usuários da maconha redução dos níveis de testosterona, diminuição da motilidade dos espermatozoides e infertilidade, redução da libido, impotência entre outros. Como sugestão de leitura, favor acessar o seguinte texto para maiores detalhes.
Qual a relação da maconha com outras drogas ilícitas?
Uma expressão muito comum é referir a maconha como “a porta de entrada para outras drogas”. De fato, foi observado nos EUA, Austrália e Nova Zelândia que o uso da maconha, especialmente em idade precoces, tende a levar ao uso de heroína e cocaína (Kandel, 2002). Parte da explicação para tal fenômeno reside no fato de o usuário da maconha obter a droga no mesmo mercado negro, além de existir uma mesma propensão farmacológica – ou seja, maconha, heroína e cocaína atuam no mesmo local no encéfalo.
Em um estudo na Alemanha, von Sydow e colegas (2001) observaram uma associação da maconha com outras substâncias como álcool (90%), nicotina (68%), cocaína (12%), estimulantes (9%), alucinógenos (6%), opioides (3%) e sedativos (1%).
Aqui, talvez esse problema seja pior. O Brasil ostenta hoje a infeliz posição de maior consumidor de crack do mundo. Em estudo de Gonçalves e Nappo (2015), verificou-se que os usuários de crack combinam a droga sintética à maconha como estratégia visando uma suposta “proteção” de efeitos indesejáveis. Tais usuários referem melhoria nos sintomas relacionados ao apetite, sono, e ânsia pelo crack. Os autores sugeriram investigar a combinação de ambas as drogas como estratégia para dirimir os danos associados ao crack.
Qual a relação da maconha com o estado mental do indíviduo?
O consumo da maconha está associado a um maior risco de desordens mentais (Figura 2). Num clássico estudo sueco contando com 50.465 jovens, Andreásson e colaboradores (1987) observaram que indivíduos que experimentaram Cannabis apresentaram risco 2-4 vezes maior em desenvolver esquizofrenia. Tal risco poderia chegar a um patamar 10 vezes maior e aumenta na ordem de 3 vezes caso haja maior frequência no uso da maconha. É alarmante observar que haveria uma redução de até 13% em esquizofrenias se a maconha tivesse sido evitada (Zammit et al., 2002). Apesar de não ter encontrado dados concretos, seria interessante observar, inclusive, a relação da maconha com o aumento de suicídios e outros surtos psicóticos no país.

Qual o impacto financeiro e social do consumo da maconha?
Foi evidenciado que os custos relacionados ao consumo da Cannabis são baixos se comparado ao uso do álcool, cigarro ou outras drogas ilícitas. Por exemplo, um estudo australiano aferiu que o gasto total com a maconha representaria 0,2% do total se comparado ao gasto com outras doenças (Begg et al., 2003). Seria 10% do gasto entre todas as drogas ilícitas naquele país.
No Brasil, os gastos do sistema único de saúde (SUS) com dependentes químicos chegaram a impressionantes R$ 9,1 bilhões em uma década (2005-2015), e possivelmente irão aumentar ainda mais nos próximos anos. Assim, muitos inadvertidamente acreditam que uma possível legalização poderia aumentar arrecadação pelo estado e ser revertida em benefícios gerais para população. Ora, seria ingenuidade acreditar que o país que ocupa os piores rankings em retorno de impostos possa agir dessa forma, mesmo quando é público e notório que grande parcela do cigarro consumido no país, uma droga legalizada e fortemente taxada pelo Estado, seja oriundo de contrabando.
Infelizmente, as experiências da legalização em outros países têm indicado problemas diversos na saúde e na segurança pública. Por exemplo, no Estado do Colorado (EUA), logo após a legalização da maconha em 2012, constatou-se que o mercado negro expandiu-se e o narcotráfico se tornou mais poderoso, tendo inclusive cooptado pontos comerciais e fiscais. Enquanto os problemas de saúde e os crimes violentos aumentaram, nenhum acréscimo significativo foi obtido na receita pública do Estado. Pelo contrário, os custos com campanhas de conscientização, atendimento médico e psicológico tendem a aumentar substancialmente.
Um exemplo mais gritante das implicações da legalização de drogas vem da Europa. A Holanda, país pioneiro na legalização da maconha, hoje vivencia uma disputa violenta entre facções criminosas. Nesse país, uma vultosa quantidade de dinheiro obtido ilicitamente é “lavado” via mercado imobiliário. Ainda, houve aliciamento de jovens para o crime, geralmente oriundos de famílias desestruturadas; e Roterdã se tornou o principal porto de distribuição de droga em todo o continente europeu.
Talvez o exemplo mais próximo da realidade brasileira venha de nosso vizinho – o Uruguai, onde a maconha foi legalizada por decreto presidencial em 2013. Calcula-se que apenas 15% do consumo da droga se concentre nos locais de venda cadastrados pelo governo. Com cerca de 147.000 usuários, estimou-se que apenas 23.161 consumidores foram devidamente cadastrados. Somente 12 entre 1.200 farmácias vendem a droga oficialmente, enquanto fábricas autorizadas, clubes de consumidores e cultivadores assumiram a produção. Num momento em que se observa que o narcotráfico apossou-se violentamente da logística de distribuição e viabilizou o mercado para a maconha, não chega a ser surpresa o Uruguai apresentar um aumento de 66% no número de homicídios e um aumento de 55% em roubos com violência neste ano.
Uma grande falácia reverberada pela mídia e por pseudo-intelectuais é supor uma possível redução no número de usuários da maconha a partir de sua legalização, já que “os jovens buscariam a droga por se tratar de uma substância proibida”. Não é isso que a literatura demonstra. No recente trabalho de Hall e Lynskey (2016), os achados plausíveis em caso da legalização da maconha nos EUA seriam desde a redução do preço final, aumento do uso “pesado” da droga bem como de seus efeitos nocivos para os usuários, assim como incremento no número de novos consumidores.
Considerando-se os efeitos biológicos da maconha, pra que lado pende a balança?
Uma profusa e atual rede de informações tem demonstrado que princípios ativos extraídos da maconha (como o cannabidiol) possuem potencial terapêutico em determinadas condições clínicas. Poderia atuar, por exemplo, como terapia coadjuvante para o tratamento de patologias e/ou desordens tais como vômitos incoercíveis, soluços de difícil controle, caquexia, AIDS, alguns tipos de câncer, epilepsia, glaucoma; pode dirimir sintomas oriundos da esclerose múltipla assim como pode ser utilizada para alívio de dor crônica. Trata-se de condições experimentais pré-clínicas ou com nível de evidência intermediário que ainda carecem de comprovação científica fidedigna.
No entanto, mesmo considerando os incipientes benefícios advindos do consumo da maconha e de seus compostos isolados, se colocarmos de um lado os efeitos benéficos e de outro os efeitos maléficos já explanados, a balança certamente determinaria que os efeitos nocivos são muito mais abundantes e devastadores para a saúde e ordem pública geral (Figura 3).

Grande parte dos indivíduos, “especialistas” e setores que possuem interesse na legalização da maconha são usuários e utilizam apenas um recorte de toda situação a fim de justificar seu intuito, frequentemente ideológico e apologista. Ora, uma visão holística do assunto deveria abordar não somente os prováveis efeitos benéficos em caso de legalização, mas também os efeitos deletérios para a saúde, as repercussões socioculturais, econômicas, jurídicas e até mesmo políticas disso. Infelizmente, a população não é devidamente informada sobre a totalidade das variáveis envolvidas no debate acerca da legalização (Figura 4).

É importante ressaltar que a apologia às drogas e à maconha, em especial, é algo que tem sido observado em diversos países ocidentais há décadas. Por trás da narrativa que empurra a “legalização da maconha” como bandeira determinante para as liberdades individuais, os incautos usuários deveriam se ater também a questionamentos filosóficos, sociais e morais.
Se proibir não é a solução, como muitos advogam, um questionamento extremamente interessante seria questionar “por que as pessoas buscam prazer por meio das drogas”? Talvez o típico hedonismo evidenciado em uma sociedade imediatista e materialista, na qual os valores morais e a fé sofrem um declínio patente, possa explicar tal fenômeno. É lamentável reconhecer que jovens e adolescentes, principalmente, buscam avidamente uma felicidade química e efêmera, muitas vezes saciadas por meio do uso de entorpecentes como a maconha.
É importante constatar que o consumo de drogas, somado ao caos econômico e crescente desemprego vivenciado no país, à desestruturação das relações interpessoais e das comunidades, à diminuição dos investimentos destinados no combate ao narcotráfico e ao crime organizado, entre outros (vide figura 5 abaixo), tem deliberado efeito na degradação da família. Aliás, já foi discutido em um texto anterior neste site o aumento expressivo dos casos de suicídio entre universitários, o qual aborda alguns desses tópicos…

Talvez o questionamento mais polêmico seja aquele reverberado por Joseph D. Douglass, ex-diretor da CIA para Inteligência, em seu livro (Figura 6) “Cocaína Vermelha” (1999). Nesta obra, o autor expõe que vários regimes comunistas “utilizam os narcóticos há várias décadas como uma arma decisiva na constante guerra de baixo nível travada contra a civilização ocidental”. Apesar de parecer algo fictício a princípio, é fácil associar a maior oferta de drogas nos Estados Unidos nas décadas de 50-60 com o surgimento e fortalecimento do partido comunista na China. Na América do Sul, questiona-se inclusive a proximidade de alguns governos com grupos de narcoterroristas que cada vez mais se destacam na região.
Em tempo, a China, Afeganistão e Irã são considerados hoje os maiores produtores de uma nova arma química ofertada aos jovens ocidentais – as metanfetaminas…

Dr. Bento J Abreu
Editor do site, professor, pesquisador e interessado em assuntos atuais
Referências:
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Republicou isso em Anatomia e Fisioterapia.
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