Uma visão anatômica do “tendão central”

O tendão central pode ser considerado uma rede fascial que conecta várias estruturas do corpo, formando um pilar interno de sustentação e funcionalidade (Kuchera, 2018).

Tradicionalmente é constituído pela dura-máter, a qual é ligada à camada profunda da fáscia profunda na região cervical (músculos suboccipitais) (Dennis et al., 2014) e à camada média da fáscia profunda através do osso hióideo (Stecco, 2015). No osso hioide inserem-se os músculos da língua e sua fáscia tem continuidade com as fáscias faríngeas e com todo o tubo digestivo que, além de projetar-se inferiormente, ascende para se inserir na região na apófise basilar do osso occipital (tubérculo de inserção da fáscia faríngea) (Netter, 2018), onde são contínuas com a dura-máter (Fig 1).

Fig 1: Anatomia do tendão central

A fáscia cervical média formam os ligamentos suspensórios da pleura e pericárdio e apresenta continuidade com eles (Tutassus et al., 2015). A camada profunda da fáscia profunda é contínua com a fáscia endotorácica (Paoletti, 2015), envolvendo também o coração e os pulmões. A partir daí, as fáscias torácicas se conectam com o diafragma por meio dos ligamentos frenicopericárdios (Fig 1). O diafragma dá sequência aos ligamentos viscerais com o estômago, fígado rim e baço, e consequentemente ao peritônio (Grays, 2018). Além disso, o diafragma se conecta ao músculo psoas via ligamento arqueado medial e ao quadrado lombar via ligamento arqueado lateral (Tilmann, 2004). Essas estruturas se ligam até a pelve, e lá são contínuas com o diafragma pélvico através das expansões fasciais dos músculos do assoalho pélvico: ílio, ísquio e pubococcígeo (Helmoortel et al., 2002). Além desse pilar interno, temos “5 diafragmas” (Fig 2) que se conectam transversalmente e tem ações sinérgicas a fim de equilibrar as tensões do corpo (Bordoni et al., 2015). São eles:

Fig 2: Os diafragmas transversais
  • Tenda do cerebelo e diafrágma da sela túrcica: expansão da dura-máter meníngea para dividir o cérebro do cerebelo e apoiar a hipófise (Liem, 2017);
  • Assoalho da boca e língua: conecta-se à fáscia na faringe. Primeiramente sobe em direção à apófise basilar do osso occipital e descende conectado ao tubo digestivo por meio da fáscia faríngea (Stecco, 2015);
  • Diafragma torácico: Formado pela parte superior da fáscia insercional do pulmão (pleura parietal) e pela “fáscia de Sibson”, parte da camada média da fáscia profunda do pescoço;
  • Músculo diafragma: apresenta 4 origens embrionárias diferentes (Silverman et al., 2010), exercendo várias funções no corpo: contribui com cerca de 80% do volume respiratório (Janusz et al., 2017); atua para a manutenção do equilíbrio pressórico intracavitário (Barral, 2017); é motor visceral principal na respiração profunda; contribui para o bombeio linfático (Kimura et al., 2011) e venoso (Meert, 2015); auxilia na estabilização lombar (Hodges et al., 2003); auxilia no controle do refluxo vômito e deglutição (Liem, 2017); pode afetar a dor e a percepção dos estados emocionais (Bordoni et al., 2016); auxilia na micção, defecação e parto (Tozzi, 2016) e atua no controle cardíaco e na hemodinâmica (Byeon et al.,2010; Stauss et al., 2003);
  • Assoalho pélvico ou diafragma pélvico: formado pelos músculos íleo, ísquio e pubococcígeo (Grays, 2018). Sincroniza a ação com o músculo diafragma pois tem relações de inervação por anastomose neurais (Bordoni et al., 2017). Podem ser potencializados conscientemente por meio do esfíncter urinário externo e o esfíncter retal externo.
Fig 3: Relação entre os diafragmas corporais

Os diafragmas devem sincronizar suas ações para uma boa função do sistema (Fig 3) (Bordoni et al., 2018). Estudos demonstram um aumento da atividade eletromiográfica da musculatura do diafragma pélvico logo antes da inspiração (Talasz et al., 2011). Ocorre, imediatamente antes da inspiração, uma atividade eletromiográfica aumentada dos músculos hioglosso e genioglosso em sincronismo ao diafragma (Cheng et al., 2008). O nervo vago inerva a região inferior da tenda do cerebelo e dura-máter, onde fazem conexões com o trigêmeo (Haines e col 2004). Ocorre uma conexão desses nervos com o hipoglosso na região cervical alta, conectando o assoalho da boca, com o diafragma e a tenda do cerebelo (Kemp e col. 2012).


Dr. Leonardo Sette Vieira
Especialista em Ortopedia e Fisioterapia Esportiva- UFMG
Especialista em Osteopatia
Sócio Fundador da ABFáscias

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