
Uma expressão grega amplamente disseminada na medicina, filosofia e literatura foi inscrita na entrada do templo de Apolo em Delfos – gnōthi seauton. O termo foi traduzido para o latim – nosce te ipsum – e remete a uma ideia como “conhece-te a ti mesmo”. Como pode-se facilmente imaginar, existem amplas interpretações para esse aforismo mas, principalmente para os cursos biomédicos, evidencia que um minucioso entendimento do corpo humano é crucial para a formação técnica e, por que não?, moral do profissional da saúde. Não é à toa que inúmeros instituições de ensino apresentem essa expressão destacada nas paredes dos laboratórios de Anatomia Humana.
Evidentemente, só é possível conhecermos o corpo humano com tamanha profundidade por meio do estudo de peças cadavéricas. Os antigos anatomistas sabiam disso e utilizaram o termo grego autopsia (autos – próprio, opsis – olhar), o qual basicamente significa “olhar para você mesmo”. Bem, já que não se poderia abrir seu próprio corpo para tal estudo, o cadáver foi alavancado como a matéria-prima para hercúlea investigação, enquanto que a dissecação seria a técnica empregada.
Do latim dissecare, a dissecação consiste no corte e abertura de seres mortos, com a separação de suas partes a fim de melhor compreender a morfologia interna do organismo. Realizada principalmente por alunos da Anatomia Topográfica, utiliza como principais instrumentos cirúrgicos bisturis, tesouras e pinças diversas.
Após a retirada do tecido cutâneo e de quaisquer envoltórios, as partes mais nobres do corpo são então separadas e devidamente acondicionadas. Estas prossecções são destinadas aos demais cursos biomédicos que não realizam a dissecação, mas que podem obter um conhecimento pormenorizado a partir de tais peças anatômicas. É uma forma de compreensão que transcende o conhecimento, pois também reafirma a frágil beleza do corpo, assim como a inevitabilidade da morte. Bem, para isto existe outra expressão latina muito oportuna: Memento Mori, ou “Lembra-te de que morrerás”…
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