
Bento J Abreu
O “bom, o belo e o justo” sempre constituíram o ideal de equilíbrio para o homem na filosofia grega clássica. Como escreve Roger Scruton em “Beleza”, esta era considerada um valor supremo equivalente à verdade e à vontade.
Alfredo Carneiro assinala que, para a ética platônica, existe uma sólida conexão entre o bom e a belo. A beleza, assim, seria a expressão de uma vida harmoniosa, equilibrada e sem excessos; não somente observada pela aparência, como também pelas ações. Assim, a beleza seria a manifestação do bem, expressa por ações concretas.
Parte dessa concepção foi assimilada pela teologia cristã posteriormente e a dicotomia entre o bem versus mal tornou-se mais aparente. Nesse sentido, o grande São Tomás de Aquino considerava que a beleza e a bondade seriam apresentações distintas de uma coisa só. Basta observar as representações de bandidos e criminosos. Estes costumam ser associados à feiúra, apresentam-se enfermos ou mutilados, e rotineiramente exibem expressões soturnas e caricatas – talvez por refletir uma alma torpe e amoral.
Os super-heróis, por outro lado, são frequentemente representados como seres belos, justos e atléticos. Mesmo aqueles que fogem de um suposto equilíbrio harmonioso; são seres tidos como pessoas boas, compreensíveis, humanas, capazes de fazer o bem para quaisquer desconhecidos. Para tanto, devem rivalizar com o mal, um antagonista igualmente forte e destemido. O filósofo conservador Edmond Burke já citava que “Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”. Assim, seus corpos deveriam representar uma força física e moral superior.
Interessantemente, foi a partir de Cânone, um escultor grego Policleto (~ 500 a.C) que desenvolveu medidas para descrever o ideal de beleza humana, que nosso imaginário acerca do corpo humano ideal foi formado. Tais proporções foram representadas em Doríforo, sua obra-prima que retratava um jovem atlético, completamente despido, numa posição ereta e relaxada. Exibindo um tórax largo, com músculos dos membros superiores torneados e musculatura abdominal saliente (principalmente os músculos oblíquos externos), portava sua lança enquanto olhava para o horizonte. Tal escultura refletia a harmonia e proporção ideal do ser humano e foi amplamente difundida na antiguidade.

O formato do tórax de Doríforo teria inspirado as couraças e armaduras na Grécia antiga. Não haveria qualquer ganho funcional, apenas estético. Os próprios capacetes, ornados com penas, dariam um aspecto mais agradável e mostraria um guerreiro mais alto. Um soldado confiante, parecendo mais forte e destemido, poderia intimidar o adversário durante as disputadas batalhas corpo-a-corpo na Antiguidade.
Entretanto, somente os mais abastados poderiam arcar com tais armaduras trabalhadas em bronze, enquanto os demais utilizavam peças confeccionadas em couro ou madeira. Assim, os demais guerreiros deveriam fortalecer o corpo a partir de um árduo treinamento físico a fim de alavancar prestígio e admiração entre os pares.

Tal ideal de beleza ainda se encontra disseminada na cultura popular. Basta observar a armadura do Batman ou o largo tórax do Superman, por exemplo. A estética do belo, mas também do bom e justo, pode representar a busca pela verdade, pela essência das coisas do mundo e um norte para a bondade. Ah, e para finalizar, não poderia deixar de comentar algo… A DC é muito superior à Marvel…
Referências:
Hugh Aldersey-Williams. Anatomias – Uma História Cultural do Corpo Humano. Editora Record, 2a edição.
Roger Scruton. Beleza. É realizações. 1a edição, 2013.