
Bento J Abreu
“O milagre é o filho predileto da fé“, disse Goethe certa vez. E um verdadeiro milagre (o termo advém de mirare ou, olhar com surpresa, maravilhar-se) é o que nos apresenta Milagres do Paraíso (2016), uma obra cinematográfica baseada em fatos reais. Nesta trama, a devota e quase desacreditada Christy Beam deve amparar sua filha – Anabell Beam, a qual padece de uma doença grave e incurável no intestino.
Como demonstra o filme, tudo iniciou-se quando Anabell apresentou fortes dores abdominais, o que levou a uma corrida para identificação das causas e, subsequentemente, a uma série de cirurgias debilitantes. O diagnóstico final apontou a Pseudo-obstrução intestinal crônica (POIC). Descrita em 1958, trata-se de uma doença rara, caracterizada por uma disfunção intestinal sem qualquer tipo de obstrução mecânica, podendo acometer tanto adultos quanto crianças. Nestas, aparentemente, as alterações neuromusculares do trato intestinal levam à obstrução reversível ou irreversível do intestino, e presença de miopatia e/ou neuropatia visceral poderia ser evidenciada por meio de biópsias.
Como apresenta Almeida e Penna (2000) em uma série de relato de casos em crianças com POIC, o diagnóstico é difícil e frequentemente ocorre por meio de achados clínicos e alterações radiológicas. Estas alterações envolvem “dilatação sem estenose, atividade peristáltica anormal, retardo no esvaziamento gástrico e diminuição das haustrações do cólon”.
Tal como apresentado no filme, sintomas como dores provenientes de distensão abdominal, constipação e vômitos, entre outros, podem estar presentes; e a alimentação frequentemente se dá por meio de sonda parenteral. No trabalho de Almeida e Penna (2000), três dos quatro pacientes evoluíram para óbito, o que demonstra a gravidade do caso e, por outro lado, torna ainda mais surpreendente o desfecho da história da pequena Anabell. Muitas vezes, a fé e a devoção podem intermediar milagres…
Referência
Patrícia Silva de Almeida, Francisco José Penna. Obstrução intestinal crônica na infância – relato de sete casos. Jornal de Pediatria – Vol. 76, Nº6, 2000.
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