Perspectivas para o tratamento fisioterapêutico em pacientes com COVID-19

Anna Beatriz Fontes de Holanda¹, Kelly Evangelista Rodrigues da Silva¹ e Marina Gabriely Paiva Felipe¹

¹Acadêmico em Fisioterapia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e monitor do Programa de Monitoria da área V.

O novo coronavírus foi classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma nova pandemia, tendo em vista sua rápida disseminação global. De acordo com os dados mais recentes das secretarias estaduais de saúde, tem-se no Brasil até o dia 10 de maior de 2020 cerca de 162.699 casos confirmados, com 11.123 mortes provocadas pela Covid-19. Um dos principais focos de preocupação dos profissionais da saúde são com os indivíduos considerados parte dos grupos de risco, isto é aquele que apresenta com maiores chances de evoluir para quadros graves da doença. Associado a isso, uma pesquisa informal realizada pelo Angioplasty.org revelou um crescimento de 800% de mortes por parada cardíaca em Nova York, se comparado ao mesmo período de 2019. No entanto, houve uma diminuição em 50% ou mais das chamadas de emergência. Outro ponto evidenciado demonstra que, em épocas sem a pandemia, os indivíduos com problemas cardíacos seriam tratados e, possivelmente, sobreviveriam. Além disso, sugeriu-se que além das causas psicossociais e seus efeitos em pacientes cardiovasculares, o aumento dessas mortes possa ter relação com casos de infecção por COVID-19 não tratada, ou seja ocorrendo assim um processo de subnotificação dos casos.

Em períodos de isolamento social, questiona-se quais seriam as influências de tal processo no crescimento dos índices de complicações cardíacas. Muito do que se sabe pode ser obtido a partir de dados da American Heart Association (2016) que já analisara as evidências que relacionam o maior tempo em comportamento sedentário associado a complicações cardiovasculares em adultos.

E o que seria o comportamento sedentário?

A palavra sedentário deriva do termo latino sedentarius, e envolve uma ação “sentada, permanecendo em um só lugar”. Podem ser consideradas atividades sedentárias falar ao telefone, comer, tomar banho, ler, permanecer sentado e/ou deitado, digitar, meditar e participar de jogos com cartas, dentre outras atividades. De forma geral, o sedentarismo é caracterizado como um comportamento de vigília com gasto energético menor ou igual a 1,5 equivalentes metabólicos*. O que todas essas atividades apresentam em comum é o fato de serem práticas facilmente tomadas por um indivíduo em isolamento social. De fato, não se espera que a população mundial tenha hábitos ativos durante o atual período pandêmico, o que não significa o mesmo que sedentarismo, pois uma pessoa em inatividade física apresenta entre 1,5 à 3 equivalentes metabólicos.

*Equivalente metabólico é a energia gasta em repouso ou o padrão de 3,5mL de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto.

Quais os efeitos psicossociais?

Outrossim, segundo Chaddha et al, existe uma relação perceptível entre a saúde mental e as doenças cardiovasculares, sendo um contribuinte ou um resultante do distúrbio cardiovascular. Amplas situações da vida cotidiana podem levar ao sofrimento mental, como o estresse, privação de sono, acidentes, os quais podem, de certa forma, fornecer uma espécie de “gatilho” para eventos cardiovasculares. Assim, é extremamente factível que o novo coronavírus faça parte do horizonte de tais pacientes. Nesse sentido, a depressão e ansiedade são colocadas em aspecto bidirecional, que tanto podem aumentar o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, como podem pender para o desenvolvimento de depressão e ansiedade.

Sendo assim, para pacientes que já se encontram ansiosos e depressivos, as constantes notícias das superlotações dos hospitais e leitos de UTI por contágio de COVID-19 provoca um efeito de repulsa e medo na procura pelos serviços de emergência, o que pode explicar a queda de cerca de 50% ou mais das chamadas de emergência. Entretanto esses mesmos aspectos podem elevar o número de mortes, sendo então um agravante do COVID-19 de forma direta ou indireta.

A fisioterapia em questão

Falar sobre esses pacientes e a necessidade da reinvenção em época de isolamento social não exclui a necessidade de se ressaltar a necessidade da reinvenção dos próprios profissionais da saúde. Nessa perspectiva, o fisioterapeuta, juntamente com os demais profissionais da área da saúde, está presente nos hospitais, na linha de frente, participando do tratamento de pacientes contaminados pelo vírus e que evoluíram para um quadro grave da doença, resultando no acometimento do sistema respiratório.

Trata-se de pacientes que necessitam de hospitalização e, em alguns casos, são levados às unidades de terapia intensiva, devido à exigência de ventilação mecânica. Os fisioterapeutas capacitados em fisioterapia cardiorrespiratória e em terapia intensiva são responsáveis por regular e controlar os ventiladores, que são mecanismos utilizados para substituir a ventilação normal, enquanto o paciente apresentar esta função comprometida, atuando então na manutenção da vida do paciente. Além disso, o profissional também pode atuar em nível primário, de forma interdisciplinar, orientando e acompanhando a população.

Por outro lado, deparamo-nos com profissionais e pacientes em isolamento que, portanto, tiveram seus atendimentos periódicos cancelados. E, assim como os pacientes cardíacos, outros pacientes tendem a apresentar resultados negativos dessa falta de acompanhamento. Nesse sentido, questiona-se, como reinventar-se em época de COVID? Encontra-se na virtualidade a saída para todos os pacientes sem atendimento? Foi isso que levou o COFFITO a apresentar a resolução nº 516 de 20 de março de 2020, autorizando a teleconsulta, telemonitoramento e teleconsultoria, que regulamentam os atendimentos durante a pandemia e garante a independência do fisioterapeuta e terapeuta ocupacional em determinar quais casos e pacientes podem ser atendidos de forma satisfatória virtualmente, objetivando assim o benefício e segurança do paciente.

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