
Retratar o corpo humano, sua engenhosidade e sua complexidade, que ao mesmo tempo nos relembra se tratar de uma estrutura tão bela e delicada, sempre foi um ideal para os inúmeros artistas que por tal temática se aventuraram. Apesar de a arte moderna principalmente objetivar eclodir emoções e sentimentos no público, ou ter como meta sua praticidade e utilidade; a arte clássica que literalmente privilegia a beleza objetiva ainda perdura, a despeito de pouca repercussão pela mídia especializada.
Este parece ser o caso da pintora portuguesa Sílvia Marieta, responsável pela obra A Busca pelo Equilíbrio (2012). Nessa tela pintada em óleo, podemos observar detalhes anatômicos bastante interessantes. A pintura representa um homem de meia-idade que, aparentemente extenuado pelo suor que despenca de sua face, segura, tal como uma balança, o encéfalo com sua mão direita; ao passo que o coração é sustentado pela outra mão. Nitidamente a dicotomia entre razão e emoção é mais uma vez emulada pela artista.

Os estudantes de Anatomia Humana poderão perceber que as meninges não foram destacadas no encéfalo, enquanto os sulcos e giros cerebrais estão destacados. Já no coração não se pode evidenciar o pericárdio fibroso, mas a lâmina visceral do pericárdio seroso pode ser imaginada a partir de uma coloração mais esbranquiçada. Como este órgão não se encontra na posição anatômica, confesso que tive certa dificuldade para relacionar se os vasos correspondem à face estermocostal ou diafragmática do coração. Realmente trata-se de uma grata e auspiciosa surpresa…