Anatomia & Filosofia: As abelhas, a rainha e os celtas

Rodson Ricardo Souza do Nascimento

Introdução

O funeral da rainha Isabel II (1926-2022) foi planejado em todos os seus detalhes durante décadas. Cada ação, cada gesto, cada símbolo porta um significado histórico, político ou espiritual. Mas existe um desses atos que poucas pessoas conhecem: o a “Adeus à Abelha Rainha”. Em meio a todo o protocolo em torno da morte da rainha Elizabeth na quinta-feira passada – incluindo como e quando o público foi informado –, quem sabia que também havia um tipo de protocolo sobre informar suas abelhas?

As abelhas e a mote da rainha

Existe um costume muito antigo que diz que, tão logo aconteça a morte de monarca britânico, as suas abelhas precisam ser comunicadas da notícia. Por isso, o apicultor real, John Chapple, precisou informar às dezenas de milhares de abelhas que residem em colmeias no Palácio de Buckingham e na Clarence House que o rei Charles é seu “novo mestre”, visto que rainha Elizabeth II morreu em 8 de setembro. O ritual faz parte de uma tradição em que as abelhas devem ser informadas sobre a mudança de propriedade; caso contrário, deixarão de produzir mel e sairão da colmeia. A tradição é mais conhecida na Inglaterra, mas também acontece na Irlanda, País de Gales e França.

Era um rito tradicional que, quando alguém morresse, dever-se-ia visitar as colmeias e fazer uma pequena oração, assim como colocar uma fita preta na colmeia. Caso o morto fosse o “mestre ou senhora das colmeias” ou alguém importante na família, era preciso avisar rapidamente as abelhas da seguinte forma: batendo em cada colmeia e dizendo: “A senhora está morta, mas não vá, seu senhor será um bom senhor para você também”. Mas porcque as abelhas precisavam ser informadas sobre assuntos humanos? Elas teriam algum tipo de opinião sobre o assunto? Bem… a resposta está nas origens remotas da monarquia britânica.

Para muitos apicultores, apoiados por historiadores do folclore, “contar às abelhas” é uma prática padrão que remonta a séculos, com consequências potencialmente graves caso não seja seguida. A tradição sustenta que as abelhas, como membros da família, devem ser informadas dos principais eventos da vida da família, especialmente nascimentos e mortes.

As origens celtas

Não se dsabe ao certo a origem disso, mas Norman diz que a prática possivelmente vem dos tempos celtas. Isso remonta à igreja cristã primitiva e aos paralelos que foram traçados com as abelhas em uma colmeia e o ambiente familiar e a maneira como a colmeia funciona. Como tal, as abelhas deveriam ser informadas de todos os principais eventos da vida de sua família – não apenas mortes, mas também casamentos ou nascimentos.

Quem são os celtas?

Celta é mais que a marca de um carro popular. Celta é a designação dada a um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos (gauleses e bretões, por exemplo). Eles também eram pertencentes à família linguística indoeuropeia que se espalhou pela maior parte do Oeste da Europa a partir do segundo milênio a.C, incluindo Portugal (norte) e Espanha (Noroeste).

Os britânicos são um povo celta; portanto, a influência do cristianismo celta no anglicanismo começa em suas origens. Anglicanos medievais, como Beda, mais tarde reivindicarão o cristianismo romano britânico como uma parte importante de sua herança. Eles contarão histórias de zelo cristão britânico, martírio, missão e controvérsia.

O cristianismo céltico ou cristianismo insular designa um tipo de cristianismo que era comum nas regiões de línguas célticas durante a maior parte da Idade Média. Essas práticas incluem: uma espiritualidade, uma organização, um sistema distinto para determinar a data da Páscoa e de fazer a tonsura monástica, por exemplo. Embora haja consenso sobre esses dados, existe grande disputa entre os historiadores sobre a extensão e grau dessa celticidade.

As abelhas celtas

Até os antigos bardos galeses chamavam a Grã-Bretanha de “Ilha do Mel” devido ao grande número de abelhas selvagens voando para lá e para cá. Não é de admirar, então, que os povos celtas, antigos e modernos, tenham construído uma vasta tradição em torno desse inseto maravilhoso, dando-nos uma indicação de quanto ele era, e ainda é, honrado em todas as nações celtas.

Os celtas, que viveram durante a Idade do Ferro e a Europa Medieval, acreditavam que as abelhas eram intermediárias entre este mundo e o outro. Eles acreditavam que as abelhas poderiam ajudar a levar mensagens deste mundo para o mundo dos mortos, servindo como canais entre os humanos e seus entes queridos. As abelhas eram respeitadas por suas habilidades, tanto que havia até mesmo documentos legais criados com o propósito expresso de proteger quaisquer práticas relacionadas às abelhas. Nas tradições da Cornualha (Inglaterra), as pessoas acreditavam que as abelhas poderiam picar o apicultor até a morte se as abelhas não fossem notificadas de um movimento iminente. Quando um apicultor falecia, o povo da Cornualha acreditava que cantar para as abelhas as impediria de abandonar a colmeia.

As abelhas cristãs

Essa sabedoria se traduziu na era cristã, com contos populares na Escócia e na Inglaterra afirmando que as abelhas zumbiriam alto à meia-noite no dia de Natal para o nascimento do Salvador. As abelhas na Cornualha só podiam ser transportadas na Sexta-feira Santa. A tradição de poder viajar pelos reinos foi transformada em abelhas vindas diretamente do Paraíso. É necessário tratar as abelhas como membros da família. Elas devem ser informadas de todos os acontecimentos familiares, desde nascimentos até mortes e eventos intermediários, especialmente casamentos. Os apicultores também precisavam de vozes calmas, pois as abelhas não aceitavam palavras duras de ânimo leve. Qualquer uma das ofensas poderia fazer com que as colmeias não produzissem mel até a saída do apicultor. Sua partida era considerada muito perigosa, pois os proprietários que perderam suas abelhas certamente estavam condenados a morrer. A tradição diz que, quando o calendário gregoriano foi aceito pelos ingleses, eles esqueceram de contar a novidade às abelhas. Como consequência, elas deixaram de polinizar as flores, de produzir mel e de cantar no Natal.

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